sábado, novembro 06, 2010

O PRIMEIRO BEIJO

Beijos. De entre todas as coisas que podemos fazer com a boca, de entre tudo o que podemos e desejamos fazer na vida, poucas coisas se comparam a um bom beijo, de preferência muitos e variados, do leve roçar de lábios ao tão popular beijo francês, curto ou mais prolongado, daqueles de tirar a respiração, quem não sonha com o seu primeiro beijo? Existem outras formas de demonstrar afecto, o toque das mãos, aquele olhar de quem não vê mais nada além da pessoa amada, mas é a expectativa do primeiro beijo - a par da famosa primeira vez - o motivo dos nossos primeiros suores frios, de todas aquelas ideias e das imagens que construímos na cabeça e que não raramente caem por terra na hora H. Não importam os planos, mas a experiência, a continuação. Por muito que nos recordemos do primeiro beijo, dificilmente ele será melhor do que o segundo e o terceiro, tese esta que serve também como boa desculpa, se depois deste desajeitado choque de lábios o seu parceiro ou parceira não se mostrarem muito entusiasmados. Convençam-no (a) que a próxima vez será bem melhor.  Não obstante, é a memória do primeiro e não do último que me acode ao pensamento - mais pela ternura do que pela perfomance. Ah, esse eterno e curioso sabor tantas vezes agrídoce das primeiras vezes!..., tão contrário à pressa, inimiga da perfeição, daqueles que querem engolir o mundo numa só golfada e que por isso - embora adquirindo rápida e vasta experiência - raramente lhe tomam o sabor que só o conhecedor e o paciente adquirem. Poucos ousam por estes dias em que nos achamos cada vez mais conhecedores da vida e das pessoas, psicanalistas de bolso, datar essas estreias - beijo ou sexo - para depois dos 18/20 anos, havendo mesmo uma espécie de orgulho masculino, uma competição para ver quem perdeu a virgindade mais cedo, da forma e nos locais mais inconcebíveis. Beijar, amar, não têm de ser uma corrida contra o tempo, um prazer tão somente intenso e instantâneo, mas uma partilha de emoções, sentidos e descobertas que vão prolongar e tornar cada momento memorável para além do momento do próprio beijo.

sexta-feira, outubro 29, 2010

PARA FINALIZAR... SOBRE COMEÇOS E TUDO O QUE HÁ PELO MEIO

 (uma adenda ao post anterior)

O que cada começo tem de pior/melhor não é o estar-lhe quase sempre inerente a obrigatoriedade de um fim, mas que, até o aingir existe um percurso  mais ou menos longo de descobertas e marcos/datas, experiências, aromas cujo sabor agridoce fazem reabrir profundas e inevitáveis feridas. Quisesse esquecê-las e tudo seria mais fácil, bastaria tão simplesmente trocar os nomes às coisas, amor por paixão, emoção por razão. Mas assim não teria memórias e um homem sem memórias ou sonhos é um homem nu, despido de fé, um saco vazio ao sabor do vento, sem vontade própria nem vida a que possa chamar sua. Assim, por opção ou casmurrice, contra a lógica do bom senso e os conselhos de quem sempre se preocupa, segue desafiando a estatística das probabilidades, dando ouvidos a quem não vê e raramente pensa: o coração.

MEMÓRIAS DE UM OUTRO OUTUBRO

Pode um amor sobreviver depois de começar com uma mentira? E se a mentira até tiver sido inocente, daquelas que não fazem mal a ninguém? Naquela tarde, três anos antes, a tarde estava bem melhor do que esta manhã em que a chuva caiu impiedosamente. Ele tinha acabado de cortar o cabelo, bem curto, apesar do tempo já fresco, e caminhava a passos largos - a única forma que ele sabia andar - para casa, quando o telemóvel tocou e lhe disseram que alguém tinha perguntado por ele. Sorriu, iluminando-se por dentro. As expectativas criadas no último par de dias pareciam ir concretizar-se, apenas não sabendo o seu alcance. Ligou-lhe de volta. 
- Já tenho aquilo para lhe entregar. - disse ela - Entrego amanhã à sua mãe?
Hesitou, sabendo que assim não teria hipóteses de vê-la, devido ao horário de trabalho. Não podia deixar para amanhã. A vida nunca deve ser deixada para depois.
- Podiamos encontrarmo-nos agora, para um café. - alvitrou - Eu ía agora beber um (mentira) e estou perto aí de casa (segunda mentira). Se quiseres...
Pouco depois encontravam-se pela primeira vez sozinhos, surpreendentemente familiares, inesperadamente - nele - faladores, parecendo quererem saber tudo um do outro no mínimo espaço de tempo. Tanto que, durante os dias seguintes não deixaram de se encontrar e bastou um par de dias para passarem da amizade àquele patamar mais elevado, que a urgência das suas afinidades e sentimentos deixava claramente perceber. Quantos dias são precisos para nos apaixonarmos? Três anos se passaram, numa relação intensa e marcada por altos e baixos que se arrastavam por vezes durante largos meses, fruto de duas personalidades difíceis, de uma teimosia estúpida que deixou que tanto tempo se lhes escapasse das mãos e dos anos. Depois bastava uma mensagem, nem sempre, mas quase sempre dele e tudo voltava ao normal, porque no fundo - parecia - tinham sido feitos um para o outro. Acreditamos em tudo quando estamos apaixonados, não enxergando muitas vezes aquilo que está bem diante do nosso nariz. Diz ele que no dia em que deixar de acreditar em tudo o que viveu - e foram os melhores três anos da sua vida -, em tudo o que foi dito, em finais felizes, a vida não terá mais sentido, porque sem sonhos, o horizonte é negro e sombrio como a manhã que hoje o despertou, três anos volvidos. Pode um amor morrer sem uma razão específica e válida deixando atrás de si apenas uma amizade ténue? Podem duas pessoas , depois de muitas promessas e planos, nas vésperas de uma vida em comum descobrirem pura e simplesmente que estavam enganadas o tempo todo? Pode o amor ser tão inconsequente e frágil, soçobrar às primeiras rajadas fortes de um Outubro agreste?

segunda-feira, outubro 18, 2010

HEAR ME

Hear Me é um belíssimo exemplo do bom cinema que se continua a fazer na Ásia, não apenas na Coreia do Sul, China ou Japão, mas também em Taiwan - Spider Lilies, Three Times...-, de onde é originário este filme de 2009, que conta a história de Yang Yang (Ivy Chen) e Tian Kuo (Eddie Peng), dois jovens para quem os problemas de comunicação parecem pôr em causa a felicidade dos dois e os sentimentos entre eles. Quase silêncioso, o filme vive muito da linguagem gestual entre a maioria dos personagens - com as legendas a serem um auxílio precioso ao espectador -, da integração dos deficientes auditivos numa sociedade cada vez mais apressada e cheia de ruídos e, principalmente, da dificuldade que as pessoas têm - com deficiência auditiva mas não só - de se fazerem ouvir, mas também escutar e compreenderem, vozes, gestos, o coração. É ao coração que nos toca sobremaneira este filme delicado e terno, intenso, incapaz de nos deixar indiferentes.
duas irmãs vivendo os sonhos uma da outra

a dificuldade de comunicar sempre presente

pode um amor sobreviver de silêncios?
.

domingo, outubro 17, 2010

UM BON VIVANT!

 Big Mal, como era carinhosamente tratado, Malcolm Allison, antigo treinador do Sporting, faleceu nesta última semana. E a notícia - aqui - até poderia ficar por estas duas linhas ou mesmo nem tanto. Mas a consciência não o permitiria, por vários motivos, desde logo ter sido o primeiro treinador de futebol a chamar-me a atenção pelo seu estilo peculiar, bonacheirão, amante das coisas boas da vida, de noitadas, mulheres e champanhe (que dizia beber uma garrafa por dia), a antítese do desportista, do treinador de futebol, do profissional que era, assim que o treino começava, por mais longa que tivesse sido a noite. E era isso que exigia aos seus jogadores,  a partir da hora em que tinham de se apresentar no estádio: profissionalismo e entrega. Talvez por isso a sua fama, a sua marca de bon vivant tivesse ficado mais vincada na memória dos que o conheceram do que propriamente pelos títulos conquistados pelas suas equipas (1 liga inglesa, 1 supertaça, 1 taça de Inglaterra e 1 taça da liga, 1 campeonato e 1 taça de Portugal pelo Sporting na distante época de 81-82). Após a conquista do campeonato e taça pelos leões de Alvalade, foi despedido na temporada seguinte, depois de um estágio de pré-temporada na Bulgária em que terão havido mulheres nos quartos dos jogadores, grandes noitadas e muita bebida, com o treinador a dar o exemplo. Dentro das quatro linhas do relvado, todavia, a equipa do célebre tridente atacante (Manuel Fernandes, Oliveira, Jordão) fazia questão de jogar e de encantar, sendo ainda hoje - para mim - a melhor equipa do Sporting que vi jogar nestes últimos 30 anos, seguidos de perto pela equipa de Bobby Robson (de Cherbakov, Paulo Sousa, João Pinto, Balakov...) ou de Octávio Machado e a léguas daquela que foi recentemente campeã. Aos 83 anos, o homem que surpreendeu um dia muita gente ao colocar um quase desconhecido Mário Jorge na equipa inícial frente ao FC Porto (no lugar do consagrado Jordão, num jogo que viria a vencer por 1 a 0, golo de Mário Jorge), não resistiu à morte, mas o que viveu fê-lo, seguramente de forma intensa, sempre no seu jeito extrovertido, um exemplo para tanta gente, treinadores inclusive, uma prova de que a vida e o futebol não têm de ser uma guerra cheia de inimigos de um lado e do outro lado da barricada, um tratado imenso de regras e normas que temos de seguir se quisermos sobreviver.

 Inácio (campeão em 81-82): "Para ele uma coisa era o treino e o jogo, outra era o convívio. Uma vez fomos todos almoçar, não havia restrições, podíamos beber, e ele fumava charuto e obrigou-nos a todos a dar uma passa! (...) Nos dias de hoje era impossível haver um Malcolm Allison"
Manuel Fernandes (campeão em 81-82): "Respeitava os atletas e tinha vontade enorme de viver. O trabalho era importante mas viver também era. (...) Não bebia às escondidas, fazia-o à frente de toda a gente porque achava que não estava a fazer mal a ninguém. Hoje não podia ser."

quarta-feira, outubro 06, 2010

AMANHÃ

Teorias, utopias, demagogias, sonhos. Foi este o feed-back às minhas palavras no meu post anterior, onde, como de costume, deixei-me contagiar, exagerei num discurso salpicado de alguns laivos quixotescos, como soi suceder de cada vez que o tema me diz tanto como a mudança, sabido é que nestas coisas vai sempre uma grande diferença entre o falar e o fazer. Não falei da mudança como algo radical, um corte abrupto com o passado. A mudança não tem de ser uma utopia. Assusta? Assusta deixar o colo materno para irmos para uma casa nossa, assusta começar uma vida nova, termos de lutar pela nossa independência, abdicar da nossa privacidade, dos nossos segredos, partilhar, mesmo quando é isso que mais desejamos? Desejo, vontade, são palavras fundamentais em contraponto com algo que nos é imposto. Não devemos alterar nada que não seja da nossa vontade, em que não acreditemos. Hoje não vou deitar lixo para a rua, hoje vou tentar sorrir mais e não me deixar contagiar pela má disposição dos outros, hoje... É isso que assusta, não a mudança em si, mas o hoje, a proximidade do teste da escola, do exame de condução, do casamento. A fuga à rotina assusta, claro. A mudança de hábitos é daquelas coisas que concordamos sempre como necessárias e perfeitamente possíveis, mas nunca tão urgentes ao ponto de não podermos adiá-las para um amanhã sempre adiado no rol das prioridades. Sim, amanhã - não hoje - vou deixar de fumar, amanhã vou lutar pelo que eu quero, amanhã vou levar os miúdos a passear, vou abrir o meu coração, amanhã... vou ser uma pessoa diferente, vou ser melhor, vou ser feliz..

terça-feira, outubro 05, 2010

SALVAR O FUTURO

É a hora. Não de uma guerra que de guerras andamos fartos - já nos bastam as dos políticos - mas de dizer um basta e de mudar não apenas por mudar. Mudem-se as mentalidades para começar, os valores e já agora a política e os políticos. É a hora de acordar e sacudir dos olhos a poeira das promessas vãs e das mentiras, de agarrar na enxada e cultivar a terra mesmo que não seja ao pé da letra, lançar as sementes para um futuro que não seja apenas isto, mais do mesmo, não apenas outras moscas, a mesma... Pequenos gestos que aos outros possam parecer insignificantes, pequenos passos que começam por nós, por mim, por si. Como esperar mudar o mundo se não somos capazes de mudar nada em nós? Porque isso de ser perfeito... nem Cristo! É hora, com Reis ou Presidentes, mas sobretudo com Homens, de dar as mãos e esquecer as diferenças, de tentar - com carácter de urgência!, pensem nos sonhos ainda por viver, nos filhos e nos filhos dos filhos - salvar o futuro enquanto ainda houver presente.

domingo, outubro 03, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!... (e ontem foi 2 de Outubro)

... e na ressaca de um dia perfeito acordariam invulgarmente tarde, talvez por ser a primeira noite juntos. A primeira coisa que ela veria seriam os seus olhos, porque o amor ainda tem dessas coisas, detalhes, laivos de romantismo que fazem com que a vida por vezes pareça valer a pena. E a seguir aos olhos - ela sabia-o, adivinhava-o -o toque das mãos no cabelo solto, numa carícia mais prolongada. A chuva caía, inesperada embora sem ser indesejada, apesar da praia ali tão perto, para lá da penumbra acolhedora daquele pequeno quarto, improvisado ninho de um amor nem sempre esclarecido todavia intenso. Não importava, tão pouca era a pressa de sair daquele abrigo quente e seguro que eram os braços um do outro, da urgência serena da pele, dos beijos, olhares e palavras, da ternura muito mais que física. Lá fora, pouco mais que o silêncio. Lamentos de turistas nas esplanadas cobertas dos cafés, a quem a borrasca apanhara de surpresa, obrigando a outras opções. Amar, sonhar, partilhar emoções, elos, família, viver. Tanto por fazer, tanto por descobrir, tantas sementes a cultivar. Mas sem pressa, sem queimar etapas, porque como em tudo na vida, uns bons preliminares são fundamentais, fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso, o sábio degustar de cada momento, o desfrutar ao máximo dos pormenores, o ser honesto, sincero e apaixonado, completo em cada entrega. Não sabiam que horas eram. Pelo menos por um dia negar-se-iam a ser reféns do tempo. Mais tarde, só então,  abririam uma excepção para as pessoas, para o Sol ou para a chuva, para os outros. Até lá bastava-lhe estender o sonho, enganar o sono de uma noite mal dormida pelo trabalho e mesmo assim ter medo de acordar, longe das extensas dunas de areia branca e dos turistas desprevenidos, da água de encontro à janela e da chuva transformada em lágrimas, encharcando a ausência dos braços e do resto, fíapos de vida fingida, versos tristes de um amargo e desconfortante amanhecer.

Pensei um dia que poderia transformar uma data triste com um evento feliz, sem ter de rasgar folhas ao calendário, moldar os dias a meu belo prazer com a fina arte de um moleiro. Pensei fazer de uma recordação triste o dia mais feliz da minha vida. Não consegui. Faltou-me o engenho, faltou-me um motivo, alguém que me livrasse de vez deste medo de acordar.

domingo, setembro 19, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

O Parque Júlio José Ferraz é, indubitavelmente um dos locais mais bonitos e aprazíveis de Almada, pelos amplos espaços verdes, que levam a que, especialmente ao fim de semana mas não só, se juntem ali bastantes crianças acompanhadas pelos pais, como ainda jovens e idosos que ali se deslocam e permanecem durante bastante tempo para namorar, descansar ou revigorar a vista com a bela paisagem do local. Confesso que este parque faz também parte do meu álbum das melhores memórias e é, ainda hoje, parte integrante do meu ritual diário. Hoje, um dia depois de uma noite de bastante movimento, devido a um espectáculo integrado na semana europeia da mobilidade, o aspecto deste espaço era o que as fotografias documentam, com muito lixo espalhado por todo o lado - havendo vários caixotes no local -, muitas garrafas de cerveja, algumas partidas outras não, com crianças brincando lado a lado com a porcaria e bocados de vidro disfarçados pela relva, perante a passividade dos pais. Como se não bastasse, até a tabuleta com o nome do Parque foi arrancada dos seus alicerces, sabe-se lá até quando. Para uma cidade que, segundo as palavras da Presidente da Câmara, dois dias antes no Almada Fashion, sabe receber as suas visitas, é triste, lamentável até que entre os seus residentes haja energúmenos deste jaez, incapazes de beberem sem perder a noção do civismo, incapazes de se comportarem em sociedade. A rebeldia, a efemeridade da juventude ou a desculpa fácil da inconsciência provocada pelo álcool não lhes dá o direito ao vandalismo, não atenua nem branqueia a maldade pura destes e outros actos semelhantes. Todos os fins de semana, não muito longe daqui, na chamada parte velha da cidade, ponto de encontro de grandes aglomerados de jovens pelo grande número de pubs e bares, é difícil adormecer antes das três, com gritos e buzinadelas de quem se mostra indiferente ao descanso dos outros e de manhã, são sempre evidentes os efeitos da sua passagem, com garrafas e restos de garrafas amontoando-se junto às portas das casas, com restos de comida de quem se arma em herói e depois não sabe aguentar a bebida. Não é esta a liberdade pela qual tanto se orgulham, não foi pelas noitadas sem freio e pelo sexo sem nexo e irresponsável que essa mesma liberdade foi tão arduamente conquistada. E chamam-lhes... a esses animais irracionais, futuro?! Que futuro, quando o presente é por eles tão maltratado?


sábado, setembro 11, 2010

OBRIGADO, MÃE!

Já aqui disse um bom par de vezes que Setembro é um mês, para mim, particularmente dedicado a aniversários, começando com o meu sobrinho mais novo, o meu irmão (já passados), o meu sobrinho mais velho, alguns amigos mais especiais e, no dia de hoje, a minha mãe. Igualmente já foi por mim referido nos anos anteriores da importância da minha mãe na minha vida, pela força, pelo afecto, por vários condicionalismos que ajudaram a moldar o meu carácter - virtudes e defeitos - e que me fizeram ser a pessoa que hoje sou. Estarei longe de ser uma pessoa perfeita e com a vida que sempre sonhei, mas conservo ainda os valores e os princípios pelos quais fui educado a tomar como certos. A minha mãe é, ainda hoje a minha grande companhia, o meu apoio, a mãe-galinha e protectora, cujos conselhos bem intencionados já nem sempre sigo, apesar de os respeitar e compreender. Há uma altura na vida, momentos em que o certo e o errado, o bom e o mau se confundem, segundo as perspectivas de quem dá e quem recebe um conselho. Nem sempre o que é certo para nós é aquilo que nos faz sentir bem, que faz o nosso coração bater mais forte. Não é apenas a justiça que é cega e o coração tem, todos sabem, razões que a própria razão desconhece. Viver, sentir, não obedece a lógicas ou normas pré-estabelecidas, é fruto muitas vezes de um momento, de um instante de loucura que tantas vezes dita uma vitória ou uma derrota, agir sem pensar ou perder o tempo pela falta de coragem. Não é pois de estranhar que um dia queiramos voar com as nossas próprias asas, cair se tivermos de cair e aprender a levantarmo-nos sem qualquer ajuda. Já caí, já escorreguei, já fui até empurrado, embora levantar-me continue a ser sempre a parte mais difícil. Os pais nem sempre compreendem essa atracção pelo abismo. Dizem: toda a gente cai uma vez na vida, duas é insistir no erro. Que dizer então de três ou quatro? Como esperar que compreendam o que por vezes até para nós é difícil de explicar? Amor, tudo se resume a isso, por ele vamos por atalhos, saímos da linha, saltamos sobre precipícios, percorremos o deserto e é esse mesmo amor, de uma forma diferente mas sempre incondicional que os pais têm, e que demonstram sem reticências, mesmo quando escolhemos esses caminhos errados (ou não), quando fazemos as nossas asneiras, quando mesmo não compreendendo, não concordando com as nossas atitudes e decisões está sempre presente no seu apoio, sem o qual cada queda seria mais dura, talvez irreversível. Ser pai deve ser - é seguramente - das coisas mais apaixonantes, mas também das mais complexas, difíceis que existem, tendo a responsabilidade de moldar um carácter, incutir valores, educar, dar-nos força mas também sensibilidade, elogiar mas também repreender. Se um dia chegar a ser abençoado pela paternidade, quero que o meu filho tenha todo o amor, a educação, os valores, toda a sorte que eu tive e ainda tenho. Obrigado, mãe! Por tudo!

EVASÕES

Shin Mina (ou Shin Min-Ah) nasceu na Coreia do Sul a 5 de Abril de 1984, sendo uma das mais promissoras actrizes e modelos sul-coreanos.

Entre os filmes e dramas por si protagonizados contam-se A Love To Kill, The Devil, My Girlfriend Is A Nine-Tailed Fox, The Beast And The Beauty ou My Mighty Princess, entre vários outros.
Devido à semelhança de nomes, alguns dados pessoais ou mesmo imagens, são confundidos nas buscas na net com a modelo, cantora e dançarina Shin Mina (já aqui apresentada), famosa especialmente pelas suas imagens durante o Mundial de futebol na Coreia. Em algumas procuras, mesmo a data de nascimento das duas surge trocada.

quinta-feira, setembro 09, 2010

TRATAMENTO POR TU OU POR VOCE

Vocês sabem a diferença entre o tratamento por tu e por você? Vocês pensam que sabem, mas vejam abaixo. Um pequeno exemplo, que ilustra bem a diferença:

O Director Geral de um Banco, estava preocupado com um jovem e brilhante director, que depois de ter trabalhado durante algum tempo com ele, sem parar nem para almoçar, começou a ausentar-se ao meio-dia. Então o Director Geral do Banco chamou um detective e disse-lhe:

- Siga o Dr. Mendes durante uma semana, durante a hora do almoço.
O detective, após cumprir o que lhe havia sido pedido, voltou e informou:
- O Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no seu carro, vai a sua casa almoçar, faz amor com a sua mulher, fuma um dos seus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.

Responde o Director Geral:
- Ah, bom, antes assim. Não há nada de mal nisso.
O detective pergunta-lhe:
- Desculpe. Posso tratá-lo por tu?
- 'Sim, claro' respondeu o Director surpreendido!
- Então vou repetir : o Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no teu carro, vai a tua casa almoçar, faz amor com a tua mulher, fuma um dos teus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.


A lingua portuguesa é mesmo fascinante!


(recebido por mail)

domingo, setembro 05, 2010

FLASHES DE FÉRIAS


sábado, setembro 04, 2010

SUGESTÕES

Lembro-me perfeitamente de um dia ter discutido com uma pessoa especial sobre até que ponto um acidente grave, uma incapacidade de um elemento do casal, uma doença de um dos filhos, daquelas que permanecem para a vida inteira poderia influir num casamento, na felicidade de duas pessoas que juravam constantemente promessas de amor eterno. Isto a propósito de alguns casais que se separam à primeira contrariedade e de "para sempres" e "até à eternidades" que se revelam sempre demasiado frágeis. Sosseguei-a com a minha resposta, sincera nas minhas convicções. Aliás, não acredito que a maioria das pessoas desse outra resposta, mesmo aquelas que um dia passaram pelo mesmo e acabaram por se separar. Há coisas que só mesmo quem passa por elas, cada caso é um caso, cada pessoa reage de forma diferente e por muito que nos conheçamos raramente conseguimos antecipar as nossas reacções a determinados factos. Já me tinha esquecido desta conversa, ocorrida no interior dum autocarro a caminho do fórum Almada, à coisa de dois anos atrás. Até hoje. Até assistir a Segredos de Família (the memory keeper's daughter), sem maiores expectativas do que teria se fosse ver algum daqueles telefilmes familiares da TVI de fim de semana. Confesso que o elenco - apesar da minha admiração por Emily Watson - não contribuiu para alterar a minha opinião pré-concebida, sustentada convictamente apenas até aos primeiros minutos do filme, que nos agarram desde logo à história e que nos fazem pensar desde logo: "E se?... fosse connosco?". Essencialmente, o filme conta-nos a história de um casal (Dermot Mulroney e Gretchen Mol) nos momentos que antecedem o nascimento do seu primeiro filho. Na ausência do médico, o marido - também doutor - resolve fazer ele próprio o parto, ajudando a dar à luz não um, mas dois bebés de sexos diferentes. O rapaz é uma criança perfeita, enquanto a rapariga sofre do síndrome de Down. Assustado por antecedentes familiares no seu passado relacionados com a doença, o protagonista resolve "esconder" a menina da sua esposa, contando-lhe que não sobreviveu ao parto, entregando a criança à enfermeira (Emily Watson), para que a levasse para um lar. Desta forma, pensava, a família seria feliz, sem os sacrifícios e a possibilidade de uma morte prematura que fizesse desmoronar a harmonia e a felicidade do casal. Todavia, o que o filme nos mostra é um contraste enorme entre a vida do protagonista no seu seio familiar e a da enfermeira, que desobedecendo resolve cuidar da menina como sua filha, e que resulta num drama comovente sem ser demasiado lamechas.

sexta-feira, setembro 03, 2010

QUEM TRAMOU ROGER RABBIT?

Esse era o título de um filme de ficção que fez certo furor alguns anos atrás, mas de que me lembrei quando vi hoje toda a envolvência mediática em torno do Processo Casa Pia, que terminou finalmente. Seguramente um dos julgamentos que se arrastaram por maior número de anos, desgastou não só todos aqueles quantos nele se viram envolvidos, como a paciência da opinião pública. "Terminar" é sempre uma expressão ingrata nos meios judiciais, pois se foi hoje finalmente lida a sentença em relação aos arguidos no caso, é certo que os próximos tempos serão por eles dedicados a apelar para outras instâncias, numa luta exaustiva nos meandros de uma justiça quase sempre cega e lenta. A sensação com que se fica hoje é a de uma vitória amarga em que ninguém saiu - pelo menos totalmente - vitorioso. Os casos de pedofilia e abuso sexual, de menores ou não, são ainda uma triste e preocupante realidade sem fim à vista, servindo as salas de tribunal para, mais do que fazer justiça, pedir exorbitantes indeminizações, porque tudo se resolve com dinheiro, tudo se vende, tudo se compra, mesmo a honra e a dignidade humana. Carlos Cruz disse esta tarde quase noite que, a partir de certa altura, o processo Casa Pia foi o processo Carlos Cruz. Na realidade, é impossível dissociar todo o sensacionalismo envolvente deste processo com o mediatismo do Senhor Televisão, outrora um dos mais conhecidos e populares profissionais da área de comunicação, elogiado quase unanimemente, mesmo por aqueles que desde o início deste caso o julgam baseados muitas vezes nos media e na opinião pública, sempre tão célere em condenar ou apontar o dedo àqueles que obtém sucesso nas suas áreas profissionais. Não tomo qualquer partido, eu que parto sempre do pressuposto que nem o Diabo é tão mau como o pintam assim como os anjos têm quase sempre a cara e as mãos sujas. A justiça dos Homens é quase sempre tão injusta condenando inocentes, quer deixando em liberdade assassinos. Sem factos que me permitam condenar ou absolver, o profissional que eu sempre admirei e que surgiu hoje na televisão, é um homem envelhecido, mas que ainda sabe jogar com as palavras e com a imagem, um daqueles tipos que se quisesse conseguia vender pentes até para carecas, tal a sua empatia com as câmaras. Dificilmente o vejo como um pedófilo, da mesma forma que não quero acreditar que a justiça continue a condenar pessoas sem provas, apesar de todos os antecedentes sobejamente conhecidos. Vários anos depois do início do processo a sensação é de vazio, a de que a montanha pariu um rato e que muita coisa ficou por dizer, que muitos nomes tão ou mais envolvidos em todo este processo permaneceram no anonimato ou apenas com breves aparições.

FLASHES DE FÉRIAS

FELIZ ANIVERSÁRIO!!!
Ao 5º dia de férias, almoço em casa do irmão para comemorar os sete anos do meu sobrinho mais novo. A importância da família como suporte emocional e a antecipação do clássico do Sporting com o Benfica no bolo com o emblema da águia, ou, como se costuma dizer: "Até os comemos!". Festas e futebol à parte, a sensação de demasiado tempo perdido. A segunda semana tem de ser a sério, no que há para fazer, mas também no prazer, porque férias são férias e quando damos por isso já estão a acabar.

domingo, agosto 29, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

Voltar ao início, ao ponto de partida. É mais fácil quando se joga ao Monopólio. Na vida real, é preciso coragem. Coragem para assumir a derrota. É como partir em busca da terra das oportunidades e ter jogado no cavalo errado, derrotado por uma cabeça. É como sair em busca do arco-íris dos sonhos e não encontrar nada no seu final, regressando com o saco da esperança carregado de desilusões e tempo perdido, afogado em memórias que cultiva como rugas, cicatrizes de uma vida que não chegou a ser. No regresso a uma casa onde não pensava voltar, as perguntas doem, embora não tanto como as pancadas nas costas e as palavras de um consolo inconsolável, que é a dor de uma ilusão frustrada. O tempo, esse companheiro de caminhadas, segue em frente, impenetrável, insensível ao seu cansaço mais psicológico do que físico. Tolices. Se parasse um pouco para pensar saberia que ninguém volta de um lugar que não existe e muito menos consegue perder algo que nunca teve. Se a vida fosse um jogo era a altura ideal para pedir um desconto, um intervalo, de forma a não ficar apeado, irremediavelmente arredado dos sonhos que agora se perdem longe, minúsculos na linha do horizonte. Mas o regresso ao ponto zero, deixa-o no lado errado da janela, protegido de um tempo que não pára e que não perdoa fraquezas, de uma estrada recheada de obstáculos difíceis de transpor, à distância segura das emoções, tão difíceis de domar como cavalos selvagens correndo soltos numa pradaria verdejante, livres. Sabia agora porque há países e pessoas que não resistem, libertos do jugo de quem lhes ditava as leis, invasores, opressores, patrões. A liberdade obriga a pensar, a decidir, a agir. Provou dela o doce fel, tão cativante como o canto das antigas sereias que levavam os marinheiros a uma morte certa afogados num denso mar de lágrimas. Sim, lágrimas!, porque as rochas - por mais sólidas - também caem e os homens também choram e as palavras... - as que se dizem e as que se calam - continuam a doer mais que paus e pedras, tingindo a pele com marcas indeléveis, que embora não se vendo nos deixam a sangrar por dentro.

quarta-feira, agosto 25, 2010

CUIDADO COM A ROTINA NO CASAMENTO

O marido entra com muito cuidado na cama e sussurra suave e apaixonadamente ao ouvido da sua mulher:

- Estou sem cuecas...

A mulher responde:

- Amanhã lavo umas quantas.

segunda-feira, agosto 23, 2010

FEELINGS

O Sol despertou-o do sono que não tinha,
vestiu a pele gasta de promessas quentes
que lhe pintaram um sorriso profundo
daqueles de orelha a orelha.
Não sorria desde a última vez,
antes do Inverno lhe secar as lágrimas
que ela lhe oferecera
e que guardara religiosamente
como um tesouro precioso.

domingo, agosto 22, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

MENTIRAS PIEDOSAS

"Tudo o que quiseres!", "Se te apetece...", "Não há problema nenhum!", "Sempre que precisares...", "O nosso amor é para sempre.", "Terminamos porque os nossos signos não combinam ou apenas porque os nossos clubes são rivais, não é nada pessoal."

Mentiras piedosas, desculpas de ocasião, a verdade encoberta com medo de magoar, silêncios que gritam arranhando a consciência. Com familiares ou amigos, no trabalho, no sexo, na vida... Entre o Sim e o Não tantas vezes silenciamos a vontade, escolhemos a saída mais fácil só para não melindrar, para fazer jeito. Entre um e outro colocamos a máscara dum mal menor, somos o que esperam que sejamos, normais. Éticamente correctos enganamos mesmo aqueles que amamos. Não me mintas nem me faças favores! Se a verdade por vezes magoa, a incerteza agonizante provocada pela dúvida é como o pingo que cai da torneira, um atrás do outro, horas a fio numa cadência certa e prolongada. Não mata mas desgasta, fere e deixa marcas.

sábado, agosto 14, 2010

VONTADE

Sou hoje triste e alegre
um rio sem mar
uma lágrima seca presa no olhar
sou lembrança
uma sombra do que fui
um sonho
sem asas
nem vontade
de voar.

sexta-feira, agosto 13, 2010

MAR & SOL

SÁBADO- Sinto-me a derreter como um gelado ao Sol, apesar de me expor muito menos por estes dias. A independência tem algumas vantagens, mas que no prato da balança parecem sempre leves demais.

DOMINGO - Passaram-se três semanas e ao contrário do que previa, a vontade de escrever - e de muitas outras coisas - continua presa de movimentos e de entusiasmo. Com o mp3 já livre do pó acumulado durante vários meses de inércia, os meus pés levam-me por caminhos que conheço de cor. O tempo não parece ser bom conselheiro, não augurando para breve sinais de bonança.

SEGUNDA - a médica da empresa diz-me que tenho uma infecção - nada de grave - e a tensão baixa, o que não é propriamente dito uma surpresa para mim. Esqueço o orgulho e mando uma mensagem. Porque será que se insiste tanto em falar de orgulho, vencedores e vencidos quando o assunto são sentimentos?

TERÇA - Primeiro dia de praia a sério - com toalha, protector e essas coisas todas. Muito Sol, muito calor, água com boa temperatura. Ter-me-ia distraído se lá estivesse, mas nem sempre a cabeça acompanha o corpo. Uma grande distância raramente nos afasta dos problemas e o local da lua de mel ali tão perto. Ah, o chefe lembrou-se de perguntar pela data do casamento.
QUARTA - Segundo dia de praia. Mais do mesmo, até nas perguntas, agora por mensagem, um outro colega mas a mesma dúvida. Não me apetece responder. Não sei responder. Em contrapartida, as americanas voadoras começam a rarear, apesar das altas temperaturas se manterem.

QUINTA - A trabalhar das 7 às 24 horas, mais responsabilidade, menos tempo para dispersar os meus pensamentos. O país parece estar todo a arder quando se liga a televisão. Há carros de bombeiros destruídos, bombeiros mortos e muitas pessoas sem casa e cheias de medo. Dizem que só se fala dos bombeiros nestas alturas. Por isso gosto tanto quando não se fala deles, quando esses heróis silenciosos se quedam pelo anonimato e o nome do Zé, da Maria ou do Manel não fazem capas de jornais por terem perecido nessa estranha forma de vida que é a de arriscarem as suas vidas de graça e mesmo assim gostarem. Ninguém sabe quem são, porque têm esse bichinho no corpo, quais os seus sonhos, ao contrário de quem gosta de aparecer na televisão e de se auto-intitular de famoso, seja por desfilarem numa passerelle ou por pensarem que sabem cantar.

SEXTA - Sexo, Mentiras e Vídeo, como no filme. Será isto a isto que está confinado o amor? Onde estão os valores morais, os laços fortes incapazes de soçobrar como castelos de cartas ao mínimo sinal de tempestade, onde está o amor? A minha fé nas relações, nos sentimentos puros e nas pessoas anda bastante comprometida por estes dias. Resta-me a vontade e o gosto - ainda que enferrujado - pela escrita. Não é grande coisa, mas num naufrágio temos muitas vezes de agarrarmo-nos a qualquer coisa que nos mantenha à tona, por muito insignificante que possa parecer, e da médica ter dito que devia praticar natação.

sexta-feira, julho 30, 2010

DIREITOS HUMANOS?!

Desporto? País desenvolvido? Direitos humanos? Parecem tudo expressões desconhecidas para os norte-coreanos, mais preocupados com actividades bélicas e, portanto, a anos-luz da qualidade de vida dos seus "irmãos" do sul como da maior parte dos países asiáticos. Isto a propósito da modesta actuação da selecção em terras da África do Sul, onde, inserida num grupo difícil, juntamente com a Costa do Marfim, Brasil e Portugal, os comandados de Kim Jong-Hun perderam os três jogos, apesar de só contra os portugueses terem sido humilhados, desportivamente falando. Fora dos relvados, foi também o que se sabe, com a selecção a treinar muitas vezes longe dos olhares do mundo, num secretismo exacerbado, com o "Rooney" norte-coreano a dizer que pretendia marcar em todos os jogos e com o seleccionador a dizer que, em termos de qualidade técnica, não eram inferiores aos... brasileiros. Depois dos malfadados 7 a 0, muito se brincou com possíveis castigos no regresso a casa, um pouco à imagem do que infelizmente realmente sucedeu em 1966, quando levaram 5 a 3 de Eusébio e companhia. Veio hoje a saber-se, segundo o jornal italiano La Repubblica (citando a Radio Free Asia) que, o seleccionador terá sido mesmo castigado com trabalhos forçados, enquanto que os futebolistas tiveram de estar seis horas de pé, defronte do Palácio da Cultura Popular de Pyongyang. Ainda segundo a mesma fonte, apenas dois futebolistas escaparam a este "puxão de orelhas" humilhante, o já comentado "craque" Jong Tae-Se, por ter chorado ao ouvir o hino antes do encontro contra o Brasil e An Yong-Hak, que regressou ao Japão - onde actua no campeonato - sem passar pela Coreia. Lá teria os seus motivos! Esta é a triste realidade de um mundo que se quer unido e desenvolvido, globalizado, mas onde conceitos como justiça, igualdade e direitos humanos continuam todos os dias a ser ignorados ou violentados em vários cantos do globo. E se em vez da Coreia o mesmo se passasse num qualquer país árabe rico em petróleo?

UMA LIÇÃO DE VIDA

«Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer»

Estas foram das últimas palavras do actor António Feio, recheadas de sabedoria. O António deixou-nos ontem, depois de uma luta estóica e inglória contra o cancro. O António era um lutador e, apesar de não ter medo da morte e estar preparado para ela - como fazia questão de frisar -, gostava ainda mais da vida. Acho sinceramente que a grande consolação que a morte nos traz, o seu maior mérito, é o de nos agarrar à vida, e quando falo da morte não falo apenas de um final físico, mas de uma derrota, de algo que tivemos e que perdemos. Nada como a perda, como uma morte inevitável, para nos apercebermos e darmos muito mais valor a coisas, pessoas, sentimentos que antes nos passavam ao lado, quase despercebidos. Infelizmente é assim para a maior parte de nós. Quase de certeza, não para o António, não para alguém que, apesar de não o conhecer muito bem - porque nunca fui grande apreciador do António actor -, sempre me transmitiu uma força, uma alegria, uma vontade de viver não apenas exclusiva dos seus últimos meses. O António era assim, podia ser Feio, mas só de nome, porque por dentro era uma pessoa bonita, com a qualidade intrínseca de conseguir transmitir-nos para fora essa mesma imagem, de partilhar. Por isso que, ao contrário de pessoas para quem 100 anos não chegam para encher uma caixa de sapatos com memórias, para quem todo o tempo do mundo não lhes chega para descobrir o significado da vida, que pensam que, após meia dúzia de anos já sabem tudo, que a vida não tem mais segredos, o António vivia como se cada dia fosse o primeiro - ou o último -, sem certezas, descodificando nos pequenos pormenores do dia a dia os verdadeiros valores, aqueles que lhe permitiram viver intensamente e mesmo na doença, encará-la como mais uma etapa, mais uma aprendizagem. E foi nessa aprendizagem, na sua humildade, na esperança, que o António nos deu uma grande lição de vida.

domingo, julho 11, 2010

DA JABULANI ÀS VUVUZELAS





O primeiro mundial africano primou pela decência, da moral e dos bons costumes, negando a glória a selecções como a grande candidata Argentina ou a agradável surpresa paraguaia, frustrando as intenções de Diego Maradona e de Larissa Riquelme, que haviam prometido despirem-se se as suas favoritas conquistassem o tão ambicionado ceptro. (por questões de logística, que não de estética, colocaremos algumas fotografias de Maradona oportunamente. O espaço colocado ao dispor era tão exíguo que mal cabia um telemóvel).

segunda-feira, junho 28, 2010

A NOIVA CADÁVER

Se falar aqui da noiva cadáver já sei que a maior parte de vós vai pensar que me refiro ao fabuloso filme animado de Tim Burton, mas não desta vez. Também na china - onde mais? -, sucedeu algo de muito insólito e que nos deixa a pensar seriamente naquilo que realmente conta na vida. Zhuang Huagui, de 26 anos, era muito feliz com a sua noiva, com quem planeava casar a 4 de fevereiro deste ano. Infelizmente, ela perdeu a vida durante um assalto, no dia 28 de janeiro. Contrariando todas as expectativas, Zhuang Huagui concretizou à mesma o casamento, numa cerimónia que teve lugar em Zhangzhou, no mesmo local do funeral. Chinesices ou apenas um grande amor?










segunda-feira, junho 21, 2010

DA JABULANI ÀS VUVUZELAS


Um outro olhar sobre o primeiro mundial africano.



Um dia tive um telemóvel igual, daqueles que vibram e vibram e...

sexta-feira, junho 18, 2010

JOSÉ SARAMAGO - UM ÚLTIMO ADEUS

"Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma."

José Saramago, escritor português, Prémio Nobel, já não está entre nós. A frase com que abro esta postagem foi um dos seus últimos testemunhos, uma das suas derradeiras ideias. Sem ser uma personagem consensual - longe disso -, José Saramago era um homem de ideias e de ideais. Enquanto que a maior parte de nós luta diariamente por um pouco de atenção, pelo olhar atento, pelo reconhecimento pelos outros daquilo que fazemos, por amor, por uma simples e rápida atenção sobre nós, existem, por outro lado uns poucos que fazem da sua vida uma guerra aberta contra o mundo, contestando tudo e todos, chamando a atenção das "luzes" pelo ódio, pelo confronto, pela polémica. Saramago nunca foi um dos meus escritores de eleição, uma das minhas referências enquanto homem.


Como Mourinho, Saramago era um homem de antagonismos, de uma personalidade forte e, como o novo treinador do Real Madrid, era um homem de conquistas. Talvez o mundo não aprecie particularmente os homens com ideias, aqueles que poem em causa verdades e conceitos pré-concebidos. Sem o admirar nem concordar em muito do que dizia ou fazia, reconhecia nele essa capacidade que poucos têm de poderem transformar, a força necessária para sacudir as teias de aranha de certas mentalidades tacanhas, a defesa intransigente dos seus ideais. A literatura ficou hoje mais pobre, Portugal - esse mesmo Portugal tão criticado por Saramago - e o mundo ficaram mais pobres com a sua morte.

terça-feira, maio 11, 2010

ESPERANÇA

Quem me conhece minimamente, pessoalmente ou através do convívio aqui da blogosfera, sabe das minhas posições - quase sempre negativas - quando o assunto são os temas religiosos, qualquer que seja a religião. Ora são os passados escritos com o sangue de muitos que não professavam a mesma ou qualquer religião, ou que simplesmente contestavam o que a igreja sempre deu por verdades insofismáveis, ou algumas opiniões extremas sobre celibato, homossexualismo, preservativo, pecado, etc etc etc, tanto que havia por onde escolher. Podem vir dizer-me que as mais de 100 mil pessoas que hoje se juntaram para assistir à missa do Papa Bento XVI, no Terreiro do Paço, na sua primeira visita a Portugal, desmentem categóricamente aquilo que tenho vindo a defender, que é o de um notório afastamento das pessoas em relação à Igreja. Para os mais desatentos lembro que também eu saí à rua para ver a imagem da Nossa Senhora de Fátima na sua passagem por Almada.
Choca-me o luxo e a ostentação das proeminentes figuras do Clero, o esbanjamento de dinheiro que esta visita acarretou, o caos no trânsito, as pontes... de um país com a economia em colapso. Choca-me o cinismo dos nossos governantes, que entre a festa benfiquista de seis milhões de portugueses e a excitação da visita do Papa atiraram para o ar o mais que iminente aumento dos impostos e umas veladas ameaças sobre cortes no 13º e no subsídio de Natal, como se nem dessemos a esses temas a devida importância. E a verdade é que a maioria nem notou, ou preferiu dar relevo a outros cenários mais festivos. Há alturas em que invejo os gregos!
Mas dizia eu que muitos dos que foram ver o Papa - bem mais simpático ao vivo do que a ideia que tinha do homem - não o fizeram por especial devoção, mas essencialmente pelo "circo" e, não dêem a este termo qualquer conotação perjurativa. Ver o Papa ao vivo é a possibilidade de aparecer na televisão, de assistir a algo que provavelmente não veremos nunca mais, "estar" incluído num grupo - ou seguir os carneiros, como tanto temos o costume de fazer em Portugal. Eu vi o Papa pela televisão, como gostaria de ter lá estado apesar das nossas diferenças, intrigado mas ao mesmo tempo fascinado com o potencial que um homem - e é d'Ele que falo, daquele em que insisto eu: não acredito - tem para mobilizar tanta gente. Tanto potencial desaproveitado ao longo de décadas, séculos, por equívocos e jogos absurdos de poder e ostentação. Hoje, como defronte da estátua mais emblemática de Fátima, penso no papel desempenhado pela Igreja, não apenas na conturbada sociedade actual, mas ao longo dos tempos, que deveria de ter sido de compreensão e de esperança para os desfavorecidos, para todos aqueles que sofrem, para os incompreendidos, vítimas das suas diferenças e tomadas de posição. A esses a Igreja nunca deu conforto, antes perseguiu. Preferiu impor em vez de aconselhar, criticar em vez de perdoar, castigar quem precisava de apoio. Conforto, conselhos, perdão, apoio, esperança, fé, união, solidariedade. É esse o papel da Igreja, de toda e qualquer religião, mesmo baseada em mitos com histórias inverosímeis e falsos deuses de pés de barro. As pessoas, cristãs ou não que seguiram o Papa, mesmo que pela televisão, não querem saber do passado, mas precisam de acreditar no futuro, mesmo que agarradas a essas imagens, ao Papa, aos santos, a um simples crucifixo, a qualquer coisa que lhes permita acreditar num amanhã melhor.

segunda-feira, abril 26, 2010

O 25 DE ABRIL FOI ONTEM

Comemorou-se ontem o 36º aniversário do 25 de Abril de 1974, data que suscitará sempre discussões, mais ou menos acaloradas. Não vou responder à pergunta óbvia, sobre onde estava por essa altura, pois seria quase um exercício especulativo, já que na altura, a política não era - certamente - uma das minhas prioridades. Da mesma forma não irei pelo caminho sinuoso de discutir sobre as qualidades e defeitos do Antigo Regime em comparação com os nossos dias, não caindo no facilitismo de achar que antigamente era tudo mau. Não era, como também não é tudo cor de rosa hoje em dia, antes pelo contrário. O extremismo de posições continua a ser um dos principais focos de instabilidade e irracionalismo nas sociedades actuais, em nada contribuindo para a aproximação entre as pessoas ou nações. Indiscutível era - é ainda - a necessidade de mudar. O desenvolvimento faz-se de revoluções, populares, emocionais, colectivas ou individuais, sempre que exista a necessidade de mudar, de sair da letargia antes que nos acostumemos mesmo ao que não nos convém, apenas pelo medo de lutar, contra os outros ou mesmo contra nós mesmos. Não estando em causa os motivos que levaram à Revolução dos Cravos, é ponto quase assente que a estratégia dos ideais de Abril falhou, da mesma forma que falharam tantas outras revoluções carregadas de boas vontades, traídas pela ambição dos homens, cujos ideais e vontades se transformam tão facilmente, consoante se encontrem no poder ou na oposição. Não estaremos então ainda a tempo de, ao invés de nos prendermos a um sentimento revivalista e nostálgico, tentarmos de novo, emendando os passos errados de outrora? É altura de uma nova revolução, menos emocional, mais racional. Somos - continuamos - demasiado passivos no que toca à acção, reclamando que atitudes consideradas como necessárias sejam sempre tomadas pelos outros, responsabilizando-os depois por tudo o que está mal, mesmo pela nossa inércia, esperando que um dia, por algum fortuito golpe de magia, tudo melhore. Submersos num cinzentismo psicológico, alimentando-nos de símbolos de um passado antigo e desgastado, dos Descobrimentos ao Benfica do Eusébio, ao fado de Amália, ao fado que é nossa sina e já com saudades do escudo, não estará na hora de largarmos os nossos inseparáveis "ses" e "naquele tempo é que era bom" e fazer acontecer um novo Presente, um Abril re-inventado e com pernas para andar? Os milhares de desempregados e outros tantos que vivem na corda bamba, com o coração em permanente sobressalto... onde estavam no 25 de Abril de 74? Que interessa? Interessa-me saber sim, onde estarão amanhã, onde estarão os nossos pais, irmãos, filhos e netos. Ontem... já lá vai!, não volta.

quinta-feira, abril 01, 2010

1º DE ABRIL

"A mentira faz parte da natureza humana, sem ela seria impossível viver em sociedade (...)
Até há uma estatística que diz que em dois minutos de conversação, há três mentiras (...) É tão importante mentir que até inventámos um dia das mentiras."

Estas afirmações pertencem ao psiquiatra Américo Baptista, publicadas hoje no jornal Global. Gostava de pensar que existe um certo exagero no que diz, que mentir não é tão importante para vivermos em sociedade, mas seria estar a enganar-me a mim mesmo, e essa é uma mentira que não quero proferir. Desde já aviso que nunca roubei, nunca menti, nunca vi filmes pornográficos ou cobicei a mulher do próximo. Nunca cometi um erro no meu trabalho, nem inventei desculpas para justificar-me perante ninguém, pais, amigos, namorada ou chefe. Mentimos. Mentimos muito, tanto, quando pequenos para escapar do raspanete do pai, nas doenças que inventamos para faltar às aulas, nas histórias contadas aos colegas sobre façanhas que nunca cometemos, sobre mulheres, sobre jogos que nunca jogámos porque nunca os pudemos sequer comprar. Mentimos quando somos cínicos para com as pessoas que não suportamos, nos desejos forçados de um bom dia, quando interrompemos o discurso ensaiado do telefonema sobre as promoções da MEO ou da ZON com um educado "não tenho tempo", mentimos já sem dar por isso e, pior, mesmo que daí não advenha qualquer vantagem. Mentimos quando nos perguntam se estamos bem e respondemos que sim, porque é a saída mais fácil ou que não, começando a contar um número exagerado de doenças e problemas apenas para que se compadeçam de nós. Mentimos para justificar o atraso no emprego, o erro cometido ou mesmo quando a mulher nos pergunta se estávamos a olhar para outra. Nunca! "Tu és a única mulher na minha vida! Morreria - outra das mentiras mais frequentes - por ti." Mente ainda o pescador e o caçador, o político e o apaixonado, o poeta e o ladrão. Somos mentirosos compulsivos, Pinóquios de carne e osso, espantados e irritados com as mentiras dos nossos governantes como se fossemos exemplares perfeitos, almas puras, imaculadas de qualquer pecado, dignos de um qualquer Fernão Mendes... Minto.

domingo, março 21, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

Nunca fui de marcar dias para os afectos, de celebrar de maneira especial os dias consagrados pelo calendário, como se nos restantes 364 dias estivesse dispensado de o fazer. Dias de consumo, comerciais, como aquelas músicas que dizem não ter qualidade, mas que vendem, porque é nesse sentido que elas são produzidas. Assim, oferecer uma prenda ao pai a 19 de Março é quase como uma obrigação. Não importa se no resto do ano nem sequer o vá visitar, mas esquecer-me deste dia é uma desfeita só comparável a ir à igreja e não pagar o dízimo, porque estarei a ofender Deus, O Pai, a principal figura paterna na hierarquia daqueles que acreditam, que uma qualquer estranha reza, um simples acto de misticismo pode curar o vírus da sida ou as mais estranhas e incuráveis maleitas. Em pleno 2010 continuamos a ser influenciados por crenças, por charlatões, daqueles que antigamente andavam pelas feiras a venderem a banha da cobra - hoje baba de caracol, eficaz para todos os males -, por bruxas, por aparências, pela hipocrisia. Ergam, pais, os vossos fracos membros superiores aos céus, agradecendo pelo dia que lhes foi consagrado. Sorriam mesmo que através duma dentadura postiça, mesmo que por uma boca já estragada, que a parca reforma não deixa arranjar, sorriam... pelas frestas do olhar por norma triste e vencido, do carácter que ainda subsiste, último baluarte de uma época quase esquecida, em que o pai era a trave mestra da família, exemplo para os filhos, o sábio, mesmo que a inteligência se medisse pela experiência da vida e não dos livros. Abram as portas dos lares, de par em par, que hoje é dia de deixar entrar os filhos e os netos - constrangidos por terem sido forçados a largar as playstations. Vêm sorridentes, trazem beijos e presentes, alguns afectos, promessas de voltar e um relógio que não pára, desculpa para o tempo que não têm, porque duma visita de médico se trata. Compromissos inadiáveis, dizem, porque nada pode ficar para trás, só os pais. É então um beijo e adeus, regado com os desejos sempre sinceros de melhoras. Amo-te, pai, até para o ano!

Gostar dos pais não é obrigação. O meu pai não era o melhor dos pais, nem o mais perfeito dos homens, longe disso. Mas eu gostava dele mesmo assim, mesmo sem ser obrigado a fazê-lo, mesmo com todos os seus erros e imperfeições. Aprendi um dia que não é preciso sermos extremamente bons em alguma coisa para sermos os melhores, já que o erro é indissociável à própria condição humana. É difícil saber se em quaisquer outras circunstâncias teria sido uma pessoa diferente, para melhor ou para pior. Conjecturas que pela sua fiabilidade nem merecem grande ponderação. Longe de ser também perfeito, com a minha boa quota parte de erros, alguns dos quais relevantes no que hoje sou e no que poderia ter sido, tenho no entanto orgulho nos valores que me foram incutidos, na correcta distinção que faço entre o certo e o errado, nos sentimentos que foram em mim plantados e que têm vindo a ser regados ao longo dos anos, tentando mantê-los à margem de eventuais ervas daninhas. Não é fácil. Mais difícil seria se não tivesse tido um bom professor que sempre me chamou a atenção e repreendeu quando era caso disso, do tipo: "Faz o que eu digo, não faças o que eu faço!". Não é preciso ser perfeito para sabermos o que é o melhor para nós e para os nossos filhos, mas é importante que eles saibam a diferença entre o bom e o mau, o certo e o errado. Optar por um desses caminhos já é, depois, uma decisão nossa, porque ser pai não é dar-nos os peixes para nos alimentarmos, mas ensinar-nos a pescar. Por isso eu tenho uma profunda admiração pelo meu pai, por isso eu não fico à espera de nenhuma data em particular para me recordar dos bons momentos que passámos juntos nem da falta que ainda hoje me faz.

domingo, março 14, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

"Conta a fábula que uma vez uma cobra começou a perseguir um vaga-lume. Assustado pela presença da perigosa predadora no seu encalço, o vaga-lume fugiu tão rapidamente quanto lhe era possível, mas a cobra não revelava sinais de poder desistir. Um dia, dois dias se passaram e o vaga-lume, cada vez mais vencido pelo cansaço, não conseguia despistar a cobra. Ao terceiro dia, o vaga-lume não aguentou mais e parou. Encarou a cobra e perguntou-lhe: - Posso fazer três perguntas?
-Não costumo abrir esse precedente para ninguém - respondeu a cobra -, mas já que te vou devorar, pode perguntar.
- Eu pertenço à sua cadeia alimentar?
- Não.
- Eu fiz-te algum mal?
- Não.
- Então porque queres devorar-me? - perguntou o vaga-lume, sem saber porque lhe perseguia a cobra.
- Porque não suporto ver-te brilhar."

Será que é impressão minha ou esta fábula é afinal tão real e tão actual nos nossos dias? Incapazes de brilhar, tantas vezes, as pessoas seguem a par e passo o sucesso dos outros, a inveja sempre na ponta das línguas viperinas das serpentes de duas pernas, mais preocupadas com a vida alheia do que atentas ao próprio umbigo. Não desistam nunca de procurar o brilho, um glamour especial para a vossa vida pessoal ou profissional, mas atenção às companhias, tantas as serpentes que se escondem por trás de uma mão estendida ou de uma palmadinha nas costas.

quinta-feira, março 11, 2010

SÓ ACONTECE AOS OUTROS?



Quantas vezes não se apanharam falando sobre os outros, como se tudo de bom
SÓ ACONTECE AOS OUTROS?

"Os outros", disse-lhe a avó, as palavras semi-amordaçadas numa angustia abafada, tantas vezes as ouvira na experiência dos seus 15 anos. "Os outros pais separam-se e continuam amigos, mais que não seja pelos filhos. Os outros...", lamentou-se pela enésima vez, deixando a frase em suspenso, como costumava fazer. Seriam os outros todos assim ou fora ele que tivera azar? O mesmo azar a que a tia fazia referência de cada vez que não lhe podia comprar aquele jogo novo. Porque a vida estava má, dizia, que não sabia porque os outros, que ganhavam bem menos do que ela tinham todos carro e iam todos os anos de férias para fora, tinham filhos, eram felizes. Era verdade. "Sabes?", contava-me, como se naqueles cinco minutos sentados lado a lado na sala de espera do SAP, nos tivessem criado um vínculo de cumplicidade. "Os outros casam, os altos e os baixos, os novos e os velhos, até os feios casam, a minha tia não, porque o namorado acha que o amor nem sempre é suficiente para seguir em frente e ela, teimosa, insiste em dizer que não, mas vai acabar uma velha melancólica, amarga e solitária. Sabes o que ela diz? Que os outros têm uma vida, que não se limitam a vê-la passar, do lado errado da janela.", dizia-lhe a tia, enquanto prometia o tal jogo para um dia ainda sem data marcada. "Um dia sai-me o totoloto, não pode ser sempre aos outros". Tinha também a criança uma vaga ideia de um dia ter pensado assim, dois, três anos antes, na sorte dos outros cujos pais estavam também separados e que por isso tinham duas casas e recebiam o dobro dos presentes. Tinha invejado - ainda longe de saber que a inveja era um pecado - os actores dos filmes e das novelas, com as suas vidas de sonho e o sorriso sempre estampado na capa das revistas, e os jogadores da bola, que ganhavam fortunas a fazerem o mesmo que ele fazia por prazer, com os amigos da rua, depois dos afazeres da escola. E ainda se queixavam quando tinham de jogar duas vezes por semana. "São uns maricas!", queixou-se. Não percebia. Os outros tinham, os outros eram, os outros faziam, diziam, os outros beijavam de língua, apesar de na altura não saber bem o que isso era e achar só de si a ideia nojenta. Não importava. O que lhe incomodava era que os outros conseguiam... ele não. Aos outros não lhes faltava nada, sorte, grandes carros, mulheres perfeitas, dinheiro e respeito. Para ganhar o respeito dos colegas tinha posto um olho negro no Chico, antes dos pais - como castigo - lhe vedarem por uma semana o acesso ao computador e à playstation. Só que tudo isso fora antes, quando ainda não sabia que "os outros" não são sempre felizes nem sortudos, têm os mesmos desejos e medos, sentimentos e frustrações. Os outros - sabia hoje, e apesar de ainda não ter experimentado os beijos a que chamavam franceses - "são os fantasmas do que não somos", confidenciou-me, satisfeito pelas palavras diferentes que usava, fruto de uma maturidade que a vida cedo lhe concedeu. E eu pensei que ele era capaz de ter razão, que os outros são quase sempre o reflexo da nossa falta de coragem, a desculpa fácil para o insucesso, condicionado pelo comodismo e pelo medo de arriscar, de fazer o dia acontecer. "Hoje", dizia-me num trejeito envergonhado por não querer parecer pretensioso, "sei que sou tão especial como os outros... só que à minha própria maneira.", e piscou-me os olhos, num sorriso maroto, antes de me perguntar se queria conhecer a tia.

terça-feira, março 09, 2010

EM DEFESA DA MORAL

Este mês, no site do jornal Sol, a minha vista foi distraída pela nudez de uns contornos femininos bem delineados. O que já não me acontece quando os meus olhos tropeçam por aqueles estranhos acidentes do destino numa qualquer edição portuguesa da Playboy, vá-se lá saber porquê. Coisas do photoshop que agora não vêm ao assunto. Talvez indignados por essa mesma perfeição, e preocupados com a integridade moral da vizinhança, uma família de Nova Jérsia foi obrigada - pela polícia - a vestir uma boneca... de neve, após queixa apresentada pelos vizinhos. Americanices, num país que, apenas por coincidência, é líder do mercado pornográfico. Vale a pena recordar Marlon Brando, cuja personagem no mítico Apocalipse Now, escrevia os seus pensamentos, qualquer coisa como: Pode-se destruir com um helicóptero e napalm uma aldeia inteira, velhos, mulheres e crianças, mas não se pode escrever Fuck You na fuselagem desse mesmo helicóptero. É esta a verdadeira moral americana. (*)



* o episódio sobre o filme de Francis Ford Coppola foi retirado dos comentários ao post aqui referido.

segunda-feira, março 08, 2010

PARA ENTENDER UMA MULHER

Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café… Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!”


Carlos Drumond de Andrade

DIA (S) DAS MULHERES

Não vou alongar-me nem dizer como já ouvi hoje que, tendo as mulheres um dia que lhes é consagrado, em todos os outros são os homens que mandam. Mas será isso que realmente pensamos, partindo do princípio que o somos capazes de fazer sem a ajuda delas, ou aquilo que elas querem que a gente pense, sendo que na realidade todos os dias sem excepção são, afinal, delas, das nossas mulheres... e das mulheres dos outros. Existem vários estudos sobre o tempo que um homem dedica por dia a pensar numa mulher (é mais bonito do que dizer "em sexo", por isso digo "mulher", com mais - no caso dos poetas - ou menos roupa). Afinal, num mundo recheado de guerras, mergulhado em problemas socio-económicos e políticos, haverá melhor pensamento do que a esperança, o amor, a felicidade, a delicadeza e a pureza duma simples flor, a doçura de um olhar como um rio de águas calmas que nos embala o stress diário do nosso quotidiano? Tudo isso a mulher nos traz, está de tal forma implícito no seu lado feminino ou simplesmente na ideia como as vemos, a outra metade sem a qual nos completamos. Poderia neste texto realçar todas as grandes vitórias ao longo dos tempos sobre um machismo ignorante e exacerbado passado (imposto, muitas vezes à força) de geração em geração, mas não o faço, por respeito. Não pela sua maior ou menor importância, mas por correr o risco de ,também eu estar a oferecer às mulheres, nestas linhas, uma bolacha, uma só, tomando para mim o resto de um pacote imenso. Não se é pai por um dia, nem as crianças têm direitos um único dia por ano. Qualquer dia é bom para presentearmos a família, os amigos, até a Mulher. Homenagear a Mulher, os seus direitos, a sua relevância não pode nem deve nunca ser uma migalha, a tal última bolacha do pacote, quando até os pombos têm direito a mais que uma. Por trás de cada grande homem sempre esteve e estará uma grande mulher (e por trás desta a esposa dele e a sogra), por trás de cada poema haverá sempre uma musa, mesmo que em forma de Lua. Por isso, aqui, hoje, quando ainda tanta comunicação entre os casais (maridos e mulheres, namorados, conhecidos e desconhecidos, pessoas) se baseia na violência física ou psicológica, e correndo o risco de me repetir, deixo a minha singela homenagem a todas as mães, filhas, amantes, companheiras, mulheres sobretudo, com as sábias palavras de um homem também ele grande, Orson Welles: "Se não fossem as mulheres, o homem ainda estaria agachado em uma caverna, comendo carne crua. Nós só construímos a civilização com o fim de impressionar as nossas namoradas."