segunda-feira, abril 26, 2010

O 25 DE ABRIL FOI ONTEM

Comemorou-se ontem o 36º aniversário do 25 de Abril de 1974, data que suscitará sempre discussões, mais ou menos acaloradas. Não vou responder à pergunta óbvia, sobre onde estava por essa altura, pois seria quase um exercício especulativo, já que na altura, a política não era - certamente - uma das minhas prioridades. Da mesma forma não irei pelo caminho sinuoso de discutir sobre as qualidades e defeitos do Antigo Regime em comparação com os nossos dias, não caindo no facilitismo de achar que antigamente era tudo mau. Não era, como também não é tudo cor de rosa hoje em dia, antes pelo contrário. O extremismo de posições continua a ser um dos principais focos de instabilidade e irracionalismo nas sociedades actuais, em nada contribuindo para a aproximação entre as pessoas ou nações. Indiscutível era - é ainda - a necessidade de mudar. O desenvolvimento faz-se de revoluções, populares, emocionais, colectivas ou individuais, sempre que exista a necessidade de mudar, de sair da letargia antes que nos acostumemos mesmo ao que não nos convém, apenas pelo medo de lutar, contra os outros ou mesmo contra nós mesmos. Não estando em causa os motivos que levaram à Revolução dos Cravos, é ponto quase assente que a estratégia dos ideais de Abril falhou, da mesma forma que falharam tantas outras revoluções carregadas de boas vontades, traídas pela ambição dos homens, cujos ideais e vontades se transformam tão facilmente, consoante se encontrem no poder ou na oposição. Não estaremos então ainda a tempo de, ao invés de nos prendermos a um sentimento revivalista e nostálgico, tentarmos de novo, emendando os passos errados de outrora? É altura de uma nova revolução, menos emocional, mais racional. Somos - continuamos - demasiado passivos no que toca à acção, reclamando que atitudes consideradas como necessárias sejam sempre tomadas pelos outros, responsabilizando-os depois por tudo o que está mal, mesmo pela nossa inércia, esperando que um dia, por algum fortuito golpe de magia, tudo melhore. Submersos num cinzentismo psicológico, alimentando-nos de símbolos de um passado antigo e desgastado, dos Descobrimentos ao Benfica do Eusébio, ao fado de Amália, ao fado que é nossa sina e já com saudades do escudo, não estará na hora de largarmos os nossos inseparáveis "ses" e "naquele tempo é que era bom" e fazer acontecer um novo Presente, um Abril re-inventado e com pernas para andar? Os milhares de desempregados e outros tantos que vivem na corda bamba, com o coração em permanente sobressalto... onde estavam no 25 de Abril de 74? Que interessa? Interessa-me saber sim, onde estarão amanhã, onde estarão os nossos pais, irmãos, filhos e netos. Ontem... já lá vai!, não volta.

quinta-feira, abril 01, 2010

1º DE ABRIL

"A mentira faz parte da natureza humana, sem ela seria impossível viver em sociedade (...)
Até há uma estatística que diz que em dois minutos de conversação, há três mentiras (...) É tão importante mentir que até inventámos um dia das mentiras."

Estas afirmações pertencem ao psiquiatra Américo Baptista, publicadas hoje no jornal Global. Gostava de pensar que existe um certo exagero no que diz, que mentir não é tão importante para vivermos em sociedade, mas seria estar a enganar-me a mim mesmo, e essa é uma mentira que não quero proferir. Desde já aviso que nunca roubei, nunca menti, nunca vi filmes pornográficos ou cobicei a mulher do próximo. Nunca cometi um erro no meu trabalho, nem inventei desculpas para justificar-me perante ninguém, pais, amigos, namorada ou chefe. Mentimos. Mentimos muito, tanto, quando pequenos para escapar do raspanete do pai, nas doenças que inventamos para faltar às aulas, nas histórias contadas aos colegas sobre façanhas que nunca cometemos, sobre mulheres, sobre jogos que nunca jogámos porque nunca os pudemos sequer comprar. Mentimos quando somos cínicos para com as pessoas que não suportamos, nos desejos forçados de um bom dia, quando interrompemos o discurso ensaiado do telefonema sobre as promoções da MEO ou da ZON com um educado "não tenho tempo", mentimos já sem dar por isso e, pior, mesmo que daí não advenha qualquer vantagem. Mentimos quando nos perguntam se estamos bem e respondemos que sim, porque é a saída mais fácil ou que não, começando a contar um número exagerado de doenças e problemas apenas para que se compadeçam de nós. Mentimos para justificar o atraso no emprego, o erro cometido ou mesmo quando a mulher nos pergunta se estávamos a olhar para outra. Nunca! "Tu és a única mulher na minha vida! Morreria - outra das mentiras mais frequentes - por ti." Mente ainda o pescador e o caçador, o político e o apaixonado, o poeta e o ladrão. Somos mentirosos compulsivos, Pinóquios de carne e osso, espantados e irritados com as mentiras dos nossos governantes como se fossemos exemplares perfeitos, almas puras, imaculadas de qualquer pecado, dignos de um qualquer Fernão Mendes... Minto.