QUANTO CUSTA UMA TRAIÇÃO?
E O PERDÃO?
Muito se tem falado em traições nas últimas semanas/meses e até se tem especulado de forma interessante sobre o que leva a uma traição. Simples desejo? Insegurança? Tanto faz, tantos são os motivos ou as desculpas com que muitas vezes nos enganamos a nós mesmos, tentando convencermo-nos de algo que até nem foi bem assim, e não somos afinal tão inocentes quanto estamos a tentar acreditar que somos. Penso hoje na traição de John Terry, futebolista internacional, até agora exemplo de grande carácter e de bom chefe de família. Afinal, também ele andou "enrolado" com Vanessa Peroncel quando esta era namorada do seu então companheiro de equipa e de selecção, Wayne Bridge. Ele e mais quatro ou cinco jogadores do Chelsea.
Pergunto eu se este episódio - ou qualquer outro pecado de natureza sexual ou não - será por si suficiente para destruir uma imagem, todo um passado ou hipotecar o futuro da pessoa que pecou. Talvez aos olhos da companheira - apesar das palavras sempre tão bonitas sobre amar e perdoar -, mas terá uma sociedade onde quase todos temos os nossos próprios telhados de vidro, as nossas próprias traições consumadas, tentadas ou apenas imaginadas, o direito a condenar um homem porque teve um caso extra-conjugal?
Neste caso particular, no ano de 2010, ocorrido numa Inglaterra moderna, John Terry não só está em vias de se separar de Toni Poole - de quem tem dois filhos -, como já perdeu a braçadeira de capitão da sua selecção e ainda ver anulados vários contratos publicitários de vários milhões. O mesmo sucedeu recentemente com o mundialmente famoso Tiger Woods, o golfista americano de quem se descobriu ter tido várias aventuras fora do casamento.
Num mundo em constante - às vezes demasiado rápida - evolução, com notícias e mudanças de hábitos que nos fazem por vezes pensar que afinal não temos uma mentalidade tão aberta como isso, perante tantas e tão surpreendentes novidades, chego agora à conclusão que em outras situações, como esta, são os outros os antiquados e não eu. É que antigamente é que um homem ou uma mulher - geralmente a mulher - era condenada pela sociedade por adultério. Hoje sucede o mesmo perante a permessividade do mundo moderno, mas em sociedades e culturas bastante distintas, em que a mulher chega a ser exposta em praça pública e apedrejada por todos como se fosse um animal selvagem. Quantos de nós, ocidentais e não só, mesmo entre aqueles que pegam as pedras com as mãos cheias de um moralismo de fachada, não seriamos açoitados e apedrejados de cada vez que temos um comportamento amoral ou inadequado à moral e aos bons costumes? Desculpem-me, mas não acredito em santos, só de barro e mesmo assim!...
A opinião pública é uma arma poderosa, a força dos meios de comunicação, tantas vezes na boca do povo por estes dias, a voz popular que anda de boca em boca e que se altera de cada vez que é contada, capaz de transformar mentiras em verdades, sujar reputações imaculadas, destruir carreiras tão arduamente construídas. Será um traidor um criminoso, um condenado a uma pena eterna de acusações e dedos apontados na rua? Será o perdão, a capacidade de perdoar, algo tão divino, de forma alguma ao alcance dos simples mortais como nós?
Sim, repito, John Terry errou - não Vanessa, claro, porque tal como sucedeu com os seus outros companheiros de equipa, por muito que ela provocasse, a carne não pode ser tão fraca como foi a do ex-capitão da selecção inglesa, agora votado a uma posição mais subalterna. Tenho para mim que o caso só poderia seguir dois caminhos: perdão ou divórcio. E tudo de uma forma simples, discreta e particular, porque a carreira de alguém, a imagem profissional não pode nem deve estar sujeita aos passos, às opções tomadas no campo sentimental e conjugal. Condenar uma pessoa, denegrir a sua imagem, distingui-lo pelos seus erros e não pelos seus feitos e qualidades não pode - não deve - ser tão fácil, especialmente numa conjuntura onde os valores, as normas e os conceitos de moral ou amoral, certo ou errado são cada vez mais subvalorizados e difíceis de avaliar em nome da corrupção, do sucesso e do prazer imediato e sem consequências, da ambição e do egocentrismo. Quem de nós nunca errou? Quem de nós nunca pecou, nem mesmo em pensamento? Quem vai atirar a primeira pedra?