sexta-feira, setembro 03, 2010

QUEM TRAMOU ROGER RABBIT?

Esse era o título de um filme de ficção que fez certo furor alguns anos atrás, mas de que me lembrei quando vi hoje toda a envolvência mediática em torno do Processo Casa Pia, que terminou finalmente. Seguramente um dos julgamentos que se arrastaram por maior número de anos, desgastou não só todos aqueles quantos nele se viram envolvidos, como a paciência da opinião pública. "Terminar" é sempre uma expressão ingrata nos meios judiciais, pois se foi hoje finalmente lida a sentença em relação aos arguidos no caso, é certo que os próximos tempos serão por eles dedicados a apelar para outras instâncias, numa luta exaustiva nos meandros de uma justiça quase sempre cega e lenta. A sensação com que se fica hoje é a de uma vitória amarga em que ninguém saiu - pelo menos totalmente - vitorioso. Os casos de pedofilia e abuso sexual, de menores ou não, são ainda uma triste e preocupante realidade sem fim à vista, servindo as salas de tribunal para, mais do que fazer justiça, pedir exorbitantes indeminizações, porque tudo se resolve com dinheiro, tudo se vende, tudo se compra, mesmo a honra e a dignidade humana. Carlos Cruz disse esta tarde quase noite que, a partir de certa altura, o processo Casa Pia foi o processo Carlos Cruz. Na realidade, é impossível dissociar todo o sensacionalismo envolvente deste processo com o mediatismo do Senhor Televisão, outrora um dos mais conhecidos e populares profissionais da área de comunicação, elogiado quase unanimemente, mesmo por aqueles que desde o início deste caso o julgam baseados muitas vezes nos media e na opinião pública, sempre tão célere em condenar ou apontar o dedo àqueles que obtém sucesso nas suas áreas profissionais. Não tomo qualquer partido, eu que parto sempre do pressuposto que nem o Diabo é tão mau como o pintam assim como os anjos têm quase sempre a cara e as mãos sujas. A justiça dos Homens é quase sempre tão injusta condenando inocentes, quer deixando em liberdade assassinos. Sem factos que me permitam condenar ou absolver, o profissional que eu sempre admirei e que surgiu hoje na televisão, é um homem envelhecido, mas que ainda sabe jogar com as palavras e com a imagem, um daqueles tipos que se quisesse conseguia vender pentes até para carecas, tal a sua empatia com as câmaras. Dificilmente o vejo como um pedófilo, da mesma forma que não quero acreditar que a justiça continue a condenar pessoas sem provas, apesar de todos os antecedentes sobejamente conhecidos. Vários anos depois do início do processo a sensação é de vazio, a de que a montanha pariu um rato e que muita coisa ficou por dizer, que muitos nomes tão ou mais envolvidos em todo este processo permaneceram no anonimato ou apenas com breves aparições.

2 comentários:

maria moura disse...

Miguel a minha única opinião é a de que (neste nosso país) nunca um processo destes teria início se não houvesse demasiadas provas concretas para lhe dar andamento. Fomos durante muito tempo o país dos intocáveis, ou seja lá porque eu sou 'fulana' posso fazer m.... que nada me vai acontecer.

bj
mmoura

Rosa Carioca disse...

Gostei do que escreveu, Miguel, e compartilho com a sua opinião. Quem sou eu para julgar mas... também tenho a sensação que os "peixes graúdos" escaparam pelas malhas da justiça...