domingo, março 21, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

Nunca fui de marcar dias para os afectos, de celebrar de maneira especial os dias consagrados pelo calendário, como se nos restantes 364 dias estivesse dispensado de o fazer. Dias de consumo, comerciais, como aquelas músicas que dizem não ter qualidade, mas que vendem, porque é nesse sentido que elas são produzidas. Assim, oferecer uma prenda ao pai a 19 de Março é quase como uma obrigação. Não importa se no resto do ano nem sequer o vá visitar, mas esquecer-me deste dia é uma desfeita só comparável a ir à igreja e não pagar o dízimo, porque estarei a ofender Deus, O Pai, a principal figura paterna na hierarquia daqueles que acreditam, que uma qualquer estranha reza, um simples acto de misticismo pode curar o vírus da sida ou as mais estranhas e incuráveis maleitas. Em pleno 2010 continuamos a ser influenciados por crenças, por charlatões, daqueles que antigamente andavam pelas feiras a venderem a banha da cobra - hoje baba de caracol, eficaz para todos os males -, por bruxas, por aparências, pela hipocrisia. Ergam, pais, os vossos fracos membros superiores aos céus, agradecendo pelo dia que lhes foi consagrado. Sorriam mesmo que através duma dentadura postiça, mesmo que por uma boca já estragada, que a parca reforma não deixa arranjar, sorriam... pelas frestas do olhar por norma triste e vencido, do carácter que ainda subsiste, último baluarte de uma época quase esquecida, em que o pai era a trave mestra da família, exemplo para os filhos, o sábio, mesmo que a inteligência se medisse pela experiência da vida e não dos livros. Abram as portas dos lares, de par em par, que hoje é dia de deixar entrar os filhos e os netos - constrangidos por terem sido forçados a largar as playstations. Vêm sorridentes, trazem beijos e presentes, alguns afectos, promessas de voltar e um relógio que não pára, desculpa para o tempo que não têm, porque duma visita de médico se trata. Compromissos inadiáveis, dizem, porque nada pode ficar para trás, só os pais. É então um beijo e adeus, regado com os desejos sempre sinceros de melhoras. Amo-te, pai, até para o ano!

Gostar dos pais não é obrigação. O meu pai não era o melhor dos pais, nem o mais perfeito dos homens, longe disso. Mas eu gostava dele mesmo assim, mesmo sem ser obrigado a fazê-lo, mesmo com todos os seus erros e imperfeições. Aprendi um dia que não é preciso sermos extremamente bons em alguma coisa para sermos os melhores, já que o erro é indissociável à própria condição humana. É difícil saber se em quaisquer outras circunstâncias teria sido uma pessoa diferente, para melhor ou para pior. Conjecturas que pela sua fiabilidade nem merecem grande ponderação. Longe de ser também perfeito, com a minha boa quota parte de erros, alguns dos quais relevantes no que hoje sou e no que poderia ter sido, tenho no entanto orgulho nos valores que me foram incutidos, na correcta distinção que faço entre o certo e o errado, nos sentimentos que foram em mim plantados e que têm vindo a ser regados ao longo dos anos, tentando mantê-los à margem de eventuais ervas daninhas. Não é fácil. Mais difícil seria se não tivesse tido um bom professor que sempre me chamou a atenção e repreendeu quando era caso disso, do tipo: "Faz o que eu digo, não faças o que eu faço!". Não é preciso ser perfeito para sabermos o que é o melhor para nós e para os nossos filhos, mas é importante que eles saibam a diferença entre o bom e o mau, o certo e o errado. Optar por um desses caminhos já é, depois, uma decisão nossa, porque ser pai não é dar-nos os peixes para nos alimentarmos, mas ensinar-nos a pescar. Por isso eu tenho uma profunda admiração pelo meu pai, por isso eu não fico à espera de nenhuma data em particular para me recordar dos bons momentos que passámos juntos nem da falta que ainda hoje me faz.

domingo, março 14, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

"Conta a fábula que uma vez uma cobra começou a perseguir um vaga-lume. Assustado pela presença da perigosa predadora no seu encalço, o vaga-lume fugiu tão rapidamente quanto lhe era possível, mas a cobra não revelava sinais de poder desistir. Um dia, dois dias se passaram e o vaga-lume, cada vez mais vencido pelo cansaço, não conseguia despistar a cobra. Ao terceiro dia, o vaga-lume não aguentou mais e parou. Encarou a cobra e perguntou-lhe: - Posso fazer três perguntas?
-Não costumo abrir esse precedente para ninguém - respondeu a cobra -, mas já que te vou devorar, pode perguntar.
- Eu pertenço à sua cadeia alimentar?
- Não.
- Eu fiz-te algum mal?
- Não.
- Então porque queres devorar-me? - perguntou o vaga-lume, sem saber porque lhe perseguia a cobra.
- Porque não suporto ver-te brilhar."

Será que é impressão minha ou esta fábula é afinal tão real e tão actual nos nossos dias? Incapazes de brilhar, tantas vezes, as pessoas seguem a par e passo o sucesso dos outros, a inveja sempre na ponta das línguas viperinas das serpentes de duas pernas, mais preocupadas com a vida alheia do que atentas ao próprio umbigo. Não desistam nunca de procurar o brilho, um glamour especial para a vossa vida pessoal ou profissional, mas atenção às companhias, tantas as serpentes que se escondem por trás de uma mão estendida ou de uma palmadinha nas costas.

quinta-feira, março 11, 2010

SÓ ACONTECE AOS OUTROS?



Quantas vezes não se apanharam falando sobre os outros, como se tudo de bom
SÓ ACONTECE AOS OUTROS?

"Os outros", disse-lhe a avó, as palavras semi-amordaçadas numa angustia abafada, tantas vezes as ouvira na experiência dos seus 15 anos. "Os outros pais separam-se e continuam amigos, mais que não seja pelos filhos. Os outros...", lamentou-se pela enésima vez, deixando a frase em suspenso, como costumava fazer. Seriam os outros todos assim ou fora ele que tivera azar? O mesmo azar a que a tia fazia referência de cada vez que não lhe podia comprar aquele jogo novo. Porque a vida estava má, dizia, que não sabia porque os outros, que ganhavam bem menos do que ela tinham todos carro e iam todos os anos de férias para fora, tinham filhos, eram felizes. Era verdade. "Sabes?", contava-me, como se naqueles cinco minutos sentados lado a lado na sala de espera do SAP, nos tivessem criado um vínculo de cumplicidade. "Os outros casam, os altos e os baixos, os novos e os velhos, até os feios casam, a minha tia não, porque o namorado acha que o amor nem sempre é suficiente para seguir em frente e ela, teimosa, insiste em dizer que não, mas vai acabar uma velha melancólica, amarga e solitária. Sabes o que ela diz? Que os outros têm uma vida, que não se limitam a vê-la passar, do lado errado da janela.", dizia-lhe a tia, enquanto prometia o tal jogo para um dia ainda sem data marcada. "Um dia sai-me o totoloto, não pode ser sempre aos outros". Tinha também a criança uma vaga ideia de um dia ter pensado assim, dois, três anos antes, na sorte dos outros cujos pais estavam também separados e que por isso tinham duas casas e recebiam o dobro dos presentes. Tinha invejado - ainda longe de saber que a inveja era um pecado - os actores dos filmes e das novelas, com as suas vidas de sonho e o sorriso sempre estampado na capa das revistas, e os jogadores da bola, que ganhavam fortunas a fazerem o mesmo que ele fazia por prazer, com os amigos da rua, depois dos afazeres da escola. E ainda se queixavam quando tinham de jogar duas vezes por semana. "São uns maricas!", queixou-se. Não percebia. Os outros tinham, os outros eram, os outros faziam, diziam, os outros beijavam de língua, apesar de na altura não saber bem o que isso era e achar só de si a ideia nojenta. Não importava. O que lhe incomodava era que os outros conseguiam... ele não. Aos outros não lhes faltava nada, sorte, grandes carros, mulheres perfeitas, dinheiro e respeito. Para ganhar o respeito dos colegas tinha posto um olho negro no Chico, antes dos pais - como castigo - lhe vedarem por uma semana o acesso ao computador e à playstation. Só que tudo isso fora antes, quando ainda não sabia que "os outros" não são sempre felizes nem sortudos, têm os mesmos desejos e medos, sentimentos e frustrações. Os outros - sabia hoje, e apesar de ainda não ter experimentado os beijos a que chamavam franceses - "são os fantasmas do que não somos", confidenciou-me, satisfeito pelas palavras diferentes que usava, fruto de uma maturidade que a vida cedo lhe concedeu. E eu pensei que ele era capaz de ter razão, que os outros são quase sempre o reflexo da nossa falta de coragem, a desculpa fácil para o insucesso, condicionado pelo comodismo e pelo medo de arriscar, de fazer o dia acontecer. "Hoje", dizia-me num trejeito envergonhado por não querer parecer pretensioso, "sei que sou tão especial como os outros... só que à minha própria maneira.", e piscou-me os olhos, num sorriso maroto, antes de me perguntar se queria conhecer a tia.

terça-feira, março 09, 2010

EM DEFESA DA MORAL

Este mês, no site do jornal Sol, a minha vista foi distraída pela nudez de uns contornos femininos bem delineados. O que já não me acontece quando os meus olhos tropeçam por aqueles estranhos acidentes do destino numa qualquer edição portuguesa da Playboy, vá-se lá saber porquê. Coisas do photoshop que agora não vêm ao assunto. Talvez indignados por essa mesma perfeição, e preocupados com a integridade moral da vizinhança, uma família de Nova Jérsia foi obrigada - pela polícia - a vestir uma boneca... de neve, após queixa apresentada pelos vizinhos. Americanices, num país que, apenas por coincidência, é líder do mercado pornográfico. Vale a pena recordar Marlon Brando, cuja personagem no mítico Apocalipse Now, escrevia os seus pensamentos, qualquer coisa como: Pode-se destruir com um helicóptero e napalm uma aldeia inteira, velhos, mulheres e crianças, mas não se pode escrever Fuck You na fuselagem desse mesmo helicóptero. É esta a verdadeira moral americana. (*)



* o episódio sobre o filme de Francis Ford Coppola foi retirado dos comentários ao post aqui referido.

segunda-feira, março 08, 2010

PARA ENTENDER UMA MULHER

Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café… Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!”


Carlos Drumond de Andrade

DIA (S) DAS MULHERES

Não vou alongar-me nem dizer como já ouvi hoje que, tendo as mulheres um dia que lhes é consagrado, em todos os outros são os homens que mandam. Mas será isso que realmente pensamos, partindo do princípio que o somos capazes de fazer sem a ajuda delas, ou aquilo que elas querem que a gente pense, sendo que na realidade todos os dias sem excepção são, afinal, delas, das nossas mulheres... e das mulheres dos outros. Existem vários estudos sobre o tempo que um homem dedica por dia a pensar numa mulher (é mais bonito do que dizer "em sexo", por isso digo "mulher", com mais - no caso dos poetas - ou menos roupa). Afinal, num mundo recheado de guerras, mergulhado em problemas socio-económicos e políticos, haverá melhor pensamento do que a esperança, o amor, a felicidade, a delicadeza e a pureza duma simples flor, a doçura de um olhar como um rio de águas calmas que nos embala o stress diário do nosso quotidiano? Tudo isso a mulher nos traz, está de tal forma implícito no seu lado feminino ou simplesmente na ideia como as vemos, a outra metade sem a qual nos completamos. Poderia neste texto realçar todas as grandes vitórias ao longo dos tempos sobre um machismo ignorante e exacerbado passado (imposto, muitas vezes à força) de geração em geração, mas não o faço, por respeito. Não pela sua maior ou menor importância, mas por correr o risco de ,também eu estar a oferecer às mulheres, nestas linhas, uma bolacha, uma só, tomando para mim o resto de um pacote imenso. Não se é pai por um dia, nem as crianças têm direitos um único dia por ano. Qualquer dia é bom para presentearmos a família, os amigos, até a Mulher. Homenagear a Mulher, os seus direitos, a sua relevância não pode nem deve nunca ser uma migalha, a tal última bolacha do pacote, quando até os pombos têm direito a mais que uma. Por trás de cada grande homem sempre esteve e estará uma grande mulher (e por trás desta a esposa dele e a sogra), por trás de cada poema haverá sempre uma musa, mesmo que em forma de Lua. Por isso, aqui, hoje, quando ainda tanta comunicação entre os casais (maridos e mulheres, namorados, conhecidos e desconhecidos, pessoas) se baseia na violência física ou psicológica, e correndo o risco de me repetir, deixo a minha singela homenagem a todas as mães, filhas, amantes, companheiras, mulheres sobretudo, com as sábias palavras de um homem também ele grande, Orson Welles: "Se não fossem as mulheres, o homem ainda estaria agachado em uma caverna, comendo carne crua. Nós só construímos a civilização com o fim de impressionar as nossas namoradas."

domingo, março 07, 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO!...


O AMOR EM SEGUNDOS

do prazer da descoberta à monotonia das certezas

Abro os jornais que falam de uma estatística assustadora no que se refere à violência doméstica e crimes passionais. Onde param os poetas de outrora, as grandes obras que exultavam o amor, as paixões de Pedro e Inês e de Romeu e Julieta, tragédias, apesar de tudo. Será que o amor é mesmo fodido?, como nas palavras de Miguel Esteves Cardoso? Serão Amor e Dor apenas duas palavras que rimam ou que além de tudo o mais palavras que nos fazem sangrar de um sangue que não se vê mas que se sente, que dói. Que sei eu sobre o segredo da felicidade ou as regras do amor? Nada, e se soubesse não dizia a ninguém, escondia os sentimentos do mundo numa caixa e jogava a chave fora só para que ninguém mais se ferisse ao usá-los. Como se isso de ser imune à dor até tivesse piada. A verdade é que nós, humanos, sensíveis, somos especialistas na repetição do erro, inexplicavelmente dotados de uma atracção pelo abismo no que se refere à nossa capacidade emocional. Podemos saber que uma pessoa não é a melhor para nós, que uma relação - por mais amor que haja - está condenada ao fracasso, que o passo para a frente significa uma queda cujas consequências podem ser drásticas e mesmo assim avançamos. Cada novo "amo-te" que proferimos nestes dias é quanto muito um descuido do coração a falar mais alto que a razão, mas a verdade é que todo o apaixonado é um cego, que embora podendo se recusa a ver, prefere viver nesse limbo de angustia eterna à certeza boa ou má. Um bom romance sobrevive de mistério. Querem saber as regras do amor? Não ter regras nenhumas. É esse o principal segredo do amor e tantas vezes da vida, a incapacidade que temos de lhe colocar regras, de prever cada passo, de o domar como se fosse um cavalo bravo. Não adianta planear, embora a imaginação e a improvisação sempre ajudem. O casal ideal não dá nada como certo, ele sabe que, a vitória numa batalha não lhe garante a guerra. Esta é ganha em decisões, em detalhes, pormenores, não em promessas, numa flor que se dá sem esperar e eu nunca ofereci uma flor que fosse, nem uma simples rosa. Se quiser manter viva a chama, seja espontâneo sem ser dramático. Surpreender e deixar-se surpreender, conquistar todos os dias como se fossem o primeiro... ou o último, a derradeira oportunidade, seduzir... é essencial e não acontece só nos filmes. Nunca pensei muito a sério como iniciar uma relação, mas apenas quando realmente deixei de pensar no assunto ela aconteceu e eu simplesmente a deixei fluir. É tudo muito bonito no princípio, na chamada idade da inocência, dos desejos mal-contidos, no tempo dos porquês. Só que um dia, sem nos darmos conta, pensamos que já sabemos tudo um do outro e deixamos de lado as perguntas, as descobertas, a subtileza e o galanteio e trocamos o incerto pelo certo. Foi aí que tudo terminou, quando passámos das dúvidas para as certezas e o pouco que sabíamos revelou-se tão frágil como um castelo de cartas ao vento. Os planos e a frieza das datas, o fim das horas que deixávamos voar - tentando em desespero imobilizá-las no tempo dos beijos e das carícias mais ousadas, as mãos trémulas de impaciência e do medo da rejeição -, deram lugar aos minutos cronometrados ao segundo e que acabaram com tudo. Porque temos de ser sérios, de perdermos para a idade adulta e para o casamento a irreverência da juventude? Houve um tempo, eu lembro-me, em que o tempo era sempre curto e o desejo imenso. Hoje sobra o tempo na ausência de ter com quem.

quinta-feira, março 04, 2010

QUEM TE VIU...

Num sempre interessante e curioso trabalho de reportagem, a SIC deu-nos a conhecer, ontem, o que foi feito de Maria Armanda, um dos rostos que ajudaram a construir as memórias televisivas de uma geração da qual faço parte. Poucos são aqueles que não se lembram ou mesmo trautearam "Eu Vi Um Sapo" durante a infância. Maria Armanda tinha então 5 anos e volvidos quase 30 fomos encontrá-la a vender telemóveis. Os sonhos da juventude são muitas vezes assim, frágeis, tal a facilidade com que se constroem carreiras alicerçadas em pouco mais de uma mão cheia de sonhos. Maria Armanda foi crescendo e despertou desse sonho ao mesmo tempo que tentava fazer carreira no glamoroso mundo da música e do espectáculo, mas toda a gente queria que ela cantasse o tema do sapo. Desistiu. Hoje a pequena Maria Armanda está mais crescida, continua com aquela expressão fresca de menina, é mãe e dos sonhos de outrora guarda ainda um, o de ir um dia a Inglaterra.











Deste Lado, sem esquecer o laborioso trabalho dos jornalistas da SIC, lamentamos contudo a falta de precisão no que poderia ser uma excelente reportagem, não fosse uma lacuna, uma grave lacuna. O pessoal aqui do Lado não estava nem um pouco interessado no que foi feito da pequena Maria Armanda. Não, a pergunta principal continua sem resposta: O que foi feito do sapo, quase três décadas depois de ter sido interrompido por aquela menina queixinhas, logo quando ele estava a papar?

terça-feira, março 02, 2010

ÁGUAS DE MARÇO

Águas de Março tingem o mar de um triste e soturno verde pálido, tão distantes das matizes azuladas em que o nosso olhar se perdia, disperso dos afazeres das mãos. Ao longe a silhueta desfocada de um cacilheiro embalado na valsa da maré suspende recordações de um momento sem passado nem futuro, sem barcos nem terra à vista nos olhos semicerrados de então, cegos de ternura e de paixão, de um tesão difícil de conter. Hoje os barcos voltaram ao Tejo, mas perderam a cor viva dos sonhos. Digo para mim mesmo que consigo continuar: "Olha, sem mãos!". Tropeço na ausência dos teus braços envolventes que me impediam de naufragar e misturo o sangue das minhas lágrimas nas águas turvas de um triste fado.