segunda-feira, outubro 19, 2009

ASSUSTADOR

Ainda na semana passada, um emigrante português foi encontrado, já morto, sentado num cadeirão, na sua casa nos arredores de Paris, no seguimento de uma chamada anónima a partir de uma cabine telefónica em Poissy. Até aqui, nada de extraordinário, não fosse o facto de José Gomes Macedo, de 62 anos e natural de Vila Verde, estar assim desde 2007. Não era a primeira vez que os vizinhos se queixavam do cheiro, mas até agora nunca ninguém tinha entrado no apartamento de José Macedo, cuja renda continuava a ser paga todos os meses através de transferência bancária. Na caixa de correio havia correspondência por retirar desde 2007 e, segundo o jornal "Le Parisien, foi encontrado no frigorífico um iogurte com data de Novembro de 2007. Este caso retrata fielmente o maior flagelo deste século: a solidão. As pessoas vivem a correr, sem tempo para "cultivar" relações, vivem em prédios enormes com vizinhos que são pouco mais que perfeitos desconhecidos. Mesmo em família, as refeições já não são motivo de reunião entre os seus elementos, pela falta de interesses comuns, pela escassez de disponibilidade de tempo ou por outros motivos. Há casais que apenas se encontram no meio de turnos, quando um se vai deitar e o outro está a acordar. José era casado ainda, vivendo a sua esposa em Vila Verde. Mais preocupantes ainda, os casos daqueles que não têm família, nem amigos que se preocupem, que se importem com a sua ausência, sombras que deambulam pelas ruas sem que ninguém repare, senão quando nos estorvam o caminho, ou a sua visão ou o cheiro nos incomoda tanto que é impossível não darmos por eles. O mundo actual é egoísta, insensível, vazio de solidariedade e um simples "Bom dia, tudo bem?" é cada vez menos que um cumprimento entre conhecidos, mas uma formalidade sem significado. "Não quero nem saber se estás bem ou não, se as coisas vão mal no teu trabalho, se a mulher ameaçou deixar-te ou se os últimos exames médicos te deixaram assustado! Eu simplesmente não tenho tempo para os queixumes dos outros!". Numa época em que até as amizades são cada vez mais virtuais a solidão é uma ameaça bem real e assustadora.

1 comentário:

Olga disse...

História triste. É verdade, as pessoas passam a maior parte do tempo a procurar aquilo que ñ precisam. É por isso que quando compram carros, passado meses já não o querem, querem outros e assim sucedindo, a verdade é que as pessoas ainda ñ reparam que o que precisam, o que é indispensavel, é o carinho dado pelos outros, a relação, tanto amorosa ou não, que realmente nos faz sorrir e querer viver sempre e cada vez mais na procura do sentido da vida.