domingo, outubro 25, 2009

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

Semana quente, com Saramago e a Igreja em acesa polémica envolvendo o novo livro do escritor, Caim, a motivar as mais variadas e acesas reacções de vários outros quadrantes da sociedade, políticos, imprensa falada e escrita (blogosfera inclusive). Disse o Prémio Nobel, entre outras coisas, que "o Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa e vingativo" ou que "Na Bíblia há incesto, (...) é inegável. Não existiria este livro se o episódio de Caim e Abel não estivesse na Bíblia, onde se mostra a crueldade de Deus. Não se deve ter confiança no Deus da Bíblia", declarou o escritor português durante a apresentação do seu mais recente livro, Caim, que acrescentou: "não esperava reacções dos católicos porque eles não lêem nem a Bíblia (...) Quem vai ler um livro desse tamanho?". No debate televisivo de sexta-feira com o teólogo Carreira das Neves e, apesar de ter defendido aquilo que disse e o que vem no seu livro, admite ter-se excedido quando chamou "Filho da p..." a Deus.
As reacções não se fizeram esperar. O eurodeputado Mário David foi o mais crítico, chegando a dizer que sentia vergonha de ser compatriota do escritor e que este devia cumprir o que dissera sobre a possibilidade de renunciar à nacionalidade portuguesa, palavras consideradas "inquisitórias" segundo Edite Estrela. Já Manuel Alegre defende a ideia que esta celeuma não passa de "uma história portuguesa cheia de preconceitos e fantasmas. Em primeiro lugar é preciso ler o livro de José Saramago. Ele é um grande escritor, mas parece que não se perdoa a Saramago, ser um grande escritor da língua portuguesa, ser um Prémio Nobel e não ser um homem religioso", afirmou."Ele escreveu um livro, mas não vejo ninguém discutir o livro. Só vejo discutir as opiniões que com todo o direito ele expressou sobre a Bíblia. (...) As pessoas podem não estar de acordo com aquilo que ele diz, mas como é que se pode pôr em causa a seriedade de um homem que diz aquilo que pensa", questionou ainda Alegre.
De tudo o que se passou penso que:
a- Não sou uma pessoa crente, pelo menos em relação aos valores da Igreja, seja ela qual for. Já aqui questionei por mais de uma vez os fundamentos e os frágeis alicerces em que se sustenta a fé cristã e os seus valores e comportamentos, bem explícitos no livro mais vendido e mais lido da história da humanidade.
b - Com as críticas de Saramago, foi sem surpresa que as altas instâncias da Igreja se fizeram ouvir, incomodadas e sobressaltadas de cada vez que alguém ousa exprimir opiniões ou ter comportamentos adversos aos da sua própria doutrina, como se ela ainda tivesse o poder de decidir aquilo que devemos pensar ou fazer, como se ainda pudesse boicotar livros, filmes ou espectáculos musicais, sob a ameaça de mandar prender e torturar os hereges, como na época da Inquisição.
c - José Saramago expressou a sua opinião, como José Rodrigues dos Santos no seu "Fúria Divina", em que apresenta o Alcorão como forma de incitação à guerra. Qualquer delas, como obra literária de ficção, podem expressar ou não a 100% as opiniões dos seus autores. Vivemos numa época em que toda a gente tem o direito de se expressar, de emitir as suas opiniões por mais controversas que sejam.
d - O Prémio Nobel português disse que a Igreja é um negócio, - um negócio muito bem gerido, a exemplo da própria carreira de Saramago, de instituições de solidariedade, da Cruz Vermelha Internacional e muitas outras respeitadas organizações acima de qualquer suspeita. Disse que em nome de Deus se mataram e torturaram milhares de pessoas. Só se esqueceu que a Bíblia não é apenas um livro de contos e histórias de vinganças e de sangue. Ela é também um veículo de fé para milhões de pessoas. Foi não só a Instituição - e em Anjos & Demónios, bem no final, diz-se que a Igreja não pode ser perfeita, porque é gerida por Homens e os Homens não são perfeitos - mas também todas as pessoas, todos esses seres imperfeitos, católicos ou não, que num dado momento das suas vidas já precisaram da religião, na forma da fé e da crença, para se erguerem da desgraça e continuarem as suas vidas, para uma cura milagrosa de um ente querido, por um amanhã melhor, que Saramago, no seu direito à expressão, não apenas criticou como ofendeu. Ofendeu Deus, ofendeu a Igreja e aqueles que crêem em algo que a razão persiste em não explicar, a fé.
d - Dizer que o fez para promover o seu novo livro ou por pura arrogância de quem sempre gostou de atitudes sobranceiras e provocatórias é pura especulação. Dizem que não precisa e eu, puro e completo ignorante sobre a sua obra, acredito e respeito, com tanta ou mais educação do que aquela que teve o escritor em relação a um tema delicado do qual não avaliou correctamente todos os efeitos colaterais.
e - Em conclusão, foi mais uma pseudo-guerra motivada uma vez mais pela falta de respeito de várias pessoas que, pela sua relevância social deviam ser mais comedidos e educados, pela falta de bom senso em relação a um tema delicado e passível de, à mínima palavra mal medida gerar incontroláveis danos colaterais. Quando é que as pessoas se convencerão que essa conversa de guerra dos sexos, choque cultural, conflitos étnico-religiosos é tudo uma falsa questão, uma treta e que as diferenças ideológicas ou de outro tipo qualquer não têm forçosamente de nos afastar? Homem e mulher, pólo positivo ou negativo, princípio e fim, branco ou preto, côncavo e convexo, fazemos todos parte do mesmo puzzle, pois se são as semelhanças que nos fazem irmãos, as diferenças tornam-nos amantes.

2 comentários:

J disse...

Concordo que a bíblia não é de fiar!
Não tanto que Deus não é de fiar. Não foi Deus que escreveu a bíblia, nem que determinou o que seria digno ou não de entrar nela, sabe-se que existem variados evangelhos que a Igreja não admitiu e esconde das pessoas. E sabe-se também que a bíblia foi sendo alterada,ou a sua interpretação, ao sabor de concílios e ilações humanas (sim porque padres, teólogos, estudiosos, bispos arcebispos e PAPAS são seres humanos apenas e só).

Aliás uma das minhas dúvidas como José Saramago também teve é porque existem 2 testamentos? Porque é que a Lei no antigo testamento é "olho por olho, dente por dente" e no novo testamento é "dou-vos um novo mandamento: que vos ameis um ao outro"?
Realmente dá mesmo a impressão de que "Deus" se enganou ou mudou de idéias.
Eu fui também criada na cultura judaico-cristã, na fé católica.
Ninguém me perguntou se queria ser católica, pura e simplesmente baptizaram-me e criaram-me nessa crença!
Hoje afirmo-me cristã e não católica, é verdade que a figura de Cristo está em mim (digo "dentro de mim", no meu coração como homem que soube "dar a outra face" não é qualquer um que o faz é preciso grande coragem e força ESPIRITUAL não digo religiosa, repare-se, mas espiritual, para tal capacidade de PERDÃO).
Saramago está muito bem e muito coerente e as suas dúvidas, queiram ou não admitir são as de muitos ditos católicos... simplesmente não há a coragem de o afirmar... porque cresceram no temor a Deus???? Talvez
Porque não é politicamente correcto?
Porque não convém agitar certas "águas"? Muito provavelmente.

Eu cresci no AMOR a Deus! E não foi em criança em adulta também.

Agora respeito perfeitamente todos os que não crêem na sua existência!
Eu acredito. Mas é uma experiência minha, aliás, uma experiência intima e pessoal assim como deve ser, penso eu, a relação de qualquer um com o seu "Criador".

De resto, apenas posso dizer que não concordo é com a responsabilização de "Deus", "Alá", ou "X - ser superior ou divino ou cósmico", pelos problemas sociais, políticos e económicos ou até climáticos que se passam no Mundo hoje.
Na verdade, hoje e sempre... estamos sempre a procurar um culpado pelos nossos próprios erros.
A humanidade é, de facto, responsável por si própria pela sua história antiga e recente, pelos seus actos mais nobres ou genocídas... mais ninguém. É a minha opinião... aceito e respeito todas as outras.

J disse...

POR FAVOR distinga-se entre fé em Cristo (cristã) e a fé católica ou na Igreja, essa instituição secular que tem muito do que se envergonhar desde a perseguição de outras igrejas, à Santa Inquisição, ou ainda à indiferença e mesmo aproveitamento do ouro vindo do Holocausto de Hitler. Até à negação da sexualidade do ser humano e proibição de planeamento familiar e protecção contra doenças fatais!!!

POR FAVOR distinga-se entre religiosidade e espiritualidade. Como já disse não pertenço à Igreja católica, apostólica romana, mas pertenço (em "identificação espiritual") a Jesus Cristo e não se trata de uma crença mas antes uma relação que também se reveste de um certo empirismo... não falo com sentimentalismos mas também com experiência vivida (Claro que nunca vi Jesus! Escusam de perguntar! Ehehehe seus cínicos...)