terça-feira, julho 11, 2006

2 - COMEÇO DE VIAGEM

Acordei pelas 5.15, depois de uma semana inteira a fazer manhãs, acordando pelas 6.30. Nada como acordar cedo num dia de folga. Porque será que estes passeios começam sempre tão cedo? O autocarro chega à hora marcada, ao local onde além de mim e do meu grupo, já estava um pequeno grupo de idosos. Dentro da viatura deparo-me com um outro grupo de idêntica faixa etária e sinto pela primeira vez um ligeiro cheiro a mofo e teias de aranha. Faltavam ainda três paragens para meter passageiros e eu começava a perder as ilusões quanto ao resto do dia. Cova da Piedade, último embarque. Consigo não ser o mais novo: um garoto de uns 13/14 anos, outro um pouco mais velho com aquele aspecto a que na escola chamavamos de "menino queque", os pais dele e umas duas dezenas de idosos excitados e faladores. Sim, havia ainda um velhinho de 94 anos e meio, que nessa altura ainda passava quase despercebido. O condutor, com um tipo autoritário e prepotente que mais tarde confirmei ser da sua vocação militar, explicou-nos como regular o ar condicionado - o que dissipou um pouco o cheiro a mofo, cada vez mais acentuado - e colocou um cd a tocar: Bruno e Marrone. Menos mal, se as "galinhas cacarejantes" me deixassem ouvir alguma coisa. Pego no meu livro e tento abstrair-me da dura realidade, não evitando um ligeiro sorriso pelo escândalo que seria, se os meus companheiros de viagem tivessem acesso a algumas das palavras que me passam diante dos olhos, no Onze Minutos, de Paulo Coelho.

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