quinta-feira, dezembro 01, 2005

EM SEGREDO


Mentiria se dissesse que não me dá prazer olhar-te, observar-te em segredo, de soslaio, imaginar-te, os teus braços e as tuas pernas como amplexos, embrulhados nos meus braços, nas minhas pernas, as bocas síamesas, as línguas esfomeadas dum tesão sem travão, num duelo devasso p'lo sofá, p'lo chão da sala, numa cozinha mal-iluminada, p'los lençóis anelantes de uma cama desarrumada, bandeira branca que tu ergues, desfraldada, querúbinica musa qu'ao poeta se entrega entre odes, suspiros e estrofes. Invento-te, uma e outra vez no deleite de uma febre que me consome, no lânguido roçagar da tua nudez na minha tez. Calo-te do meu corpo frio, duma memória ainda quente onde sem saber estiveste presente; calo-me das mãos suadas e da ausência do teu corpo no meu, da guerra que ninguém venceu. Em segredo, largo um beijo húmido no vazio do teu sexo.

5JAN03

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