domingo, novembro 22, 2009

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

... hoje não vou pensar nos outros.


Perdoem-me, mas hoje não quero pensar no Natal daqueles que estão desempregados e cujos filhos vão certamente passar por necessidades, com pouco que comer e sem nenhum presente, brinquedo ou não. Podem desde já chamar-me cruel, insensível, no mínimo egoísta. Hoje bastam-me os meus problemas para me deitarem ao tapete da auto-comiseração, se quiser perder tempo a pensar neles. Mas não quero. Hoje não.
Problemas... sei que existem milhões de pessoas que agora se ririam dos meus problemas, milhões de indivíduos que dariam anos de vida numa troca de problemas, como quando éramos miúdos e trocávamos cromos à porta da escola. Mas isso era no meu tempo, quando um problema se resumia a uma conta de dividir. Hoje não se trocam mais cromos, a internet e as playstation deixam cada momento livre esmiuçado ao milésimo de segundo. Só que hoje, os outros vêm depois de mim. Não tenho o costume de pensar na fome em África de cada vez que sacio o meu pecado da gula num belo naco de bife, mesmo que vá deixar uma boa porção na travessa. Da mesma forma que não penso naquele rapaz novo, recém casado, recentemente pai, que recebe a notícia de lhe restar um par de meses de vida, quando me queixo com exagerada veemência de um simples arranhão no joelho quando estava a jogar à bola com os amigos. Pensar em semelhante tipo de coisas deixa-nos sempre deprimidos e sugestionáveis ao suícidio. A mrelhor maneira de combateres a pobreza é, acredita, não te tornando um deles.
Um problema é sempre relativamente grande ou relativamente pequeno, conforme a perspectiva. Para assinalar um penalty não tem de haver uma falta de maior ou menor gravidade. Uma falta é uma falta e isso é que é o problema. A "ausência de..." é um pressuposto, uma condicionante para o problema em si. O dinheiro não é o maior dos problemas, ao contrário do que pensa a maioria. Não o ter é um problema, não ter emprego, não ter comida, não ter saúde, não ter amor, são problemas. Não ter esperança é tudo isso e muito mais. Não ter esperança, não ter um motivo para acordar de manhã... isso é que é fodido. O dinheiro não é tudo na vida. É quase. Com ele resolvia quase todas as minhas ausências, mesmo a de sentimentos. Com o vil metal fazia felizes meia dúzia - pouco mais - de pessoas cujo bem estar e felicidade estão indubitavelmente indissociáveis à minha própria harmonia, bem estar e felicidade. Por isso hoje não quero, não vou pensar nos outros, mas nos meus, naqueles cujas lágrimas ou gargalhadas condicionam o barómetro da minha boa disposição, da minha fé e esperança. Fazê-los felizes, sabê-los felizes é quanto baste para ser feliz, é tudo o que eu quero de um Natal cada vez mais endividado e entristecido. Nada peço para mim, nem mesmo amor. A maior parte das vezes nem mereço mesmo nada, tal a dor que a generalidade das minhas boas intenções causou inadvertidamente pelo caminho. Toda a gente nasce para o que é. Uns estão destinados a ser felizes, a outros resta-lhes meia dúzia de boas recordações religiosamente guardadas no escrínio das lembranças, como um tesouro muito valioso. Hoje vou pensar nos meus, desejar para eles um futuro repleto de coisas boas, saúde, dinheiro e amor, tudo aquilo que toda a gente deveria ter. Porque hoje é domingo e se todo o sonho é permitido, o meu é limitado e egoísta... mesmo que nada queira para mim. Amanhã quem sabe... voltarei a ser humano.

1 comentário:

"Picos" disse...

amanhã quem sabe... queres tudo e o tudo é quase nada, quando se quer o mesmo tudo para todos os outros.
;-)