quinta-feira, maio 15, 2008

"A MINHA FILHA MERECEU MORRER"


Talvez a maioria não conheça a história. Eu próprio não a conhecia até alguns dias atrás e a verdade é que se calhar, até preferia continuar a ignorá-la. "A minha filha mereceu morrer", disse um pai e a pergunta é inevitável: Que terrível barbaridade poderá essa filha ter feito para levar um pai a dizer tal coisa? "A minha filha mereceu morrer por se apaixonar".
Os acontecimentos que me chamaram a atenção tiveram lugar a 16 de Março, dia em que um pai matou a própria filha por supor que esta se havia apaixonado por um soldado britânico estacionado na cidade iraquiana de Baçorá. Rand Abdel-Qader não passava de uma garota alegre, na juventude dos seus 17 anos, uma muçulmana cuja maior culpa foi não saber que era crime amar um cristão, como comer carne de porco ou beber álcool, uma islamita que se esqueceu de que não podemos amar quem queremos e que por isso morreu como merecia, para lavar a afronta a Maomé. Abdel-Qader Ali, funcionário público xiita, - para quem o mínimo que a filha de 17 anos merecia era morrer - confessou a barbaridade ao semanário The Observer: "Se eu soubesse no que ela se ia transformar, tê-la-ia matado logo que a mãe a deu à luz".
Quase dois meses após a morte da jovem - sufocada e esfaqueada pelo pai e irmãos - ter chocado o mundo, Abdel-Qader Ali continua em liberdade. Foi no jardim da sua casa que o homem de 46 anos recordou como teve "o apoio dos meus amigos que também são pais e sabem que o que ela fez é inaceitável". A própria polícia, que chegou a deter Abdel-Qader umas horas, deu-lhe razão. "Todos sabem que os crimes de honra são impossíveis de evitar", disse o iraquiano, segundo o qual "os agentes ficaram ao meu lado o tempo todo a dar-me os parabéns pelo que fizera".
Rand Abdel-Qader terá conhecido Paul, um militar britânico de 22 anos, numa acção de caridade na cidade do Sul do Iraque, em que ambos participavam como voluntários. Como qualquer adolescente apaixonada, apressou-se a contar tudo à melhor amiga Zeinab. "Ela gostava de falar do seu cabelo louro e olhos cor de mel, da sua pele branca e da sua maneira suave de falar", recordou a rapariga de 19 anos em declarações ao Daily Mail. Para as amigas, o britânico era "muito diferente dos homens de cá, rudes e analfabetos".
Uma paixão que podia até nem ser retribuída. De facto, Rand e Paul não se terão encontrado mais de meia dúzia de vezes e sempre em locais públicos. "Ela nunca fez nada para além de falar com ele", garantiu Zeinab. Mesmo assim, esta não se cansou de alertar a amiga para os perigos desta amizade: "Disse-lhe vezes sem conta que ela era muçulmana e que a sua família nunca aceitaria que casasse com um soldado britânico cristão." Como confidente de Rand, era Zeinab quem guardava os presentes que este lhe oferecia, como um leão em peluche para o qual diz agora ser "difícil olhar".
E foi o que aconteceu. Quando o pai de Rand soube que a filha se andava a encontrar com o militar, perdeu a cabeça. "Entrou em casa com os olhos raiados de sangue e a tremer", recordou ao The Observer a mãe da rapariga. Quando viu o marido a sufocar a filha com o pé, Leila Hussein chamou os dois filhos, de 21 e 23 anos, para ajudarem a irmã. Mas quando o pai lhes disse o motivo da agressão estes ainda o ajudaram.
Considerada "impura", Rand não teve direito a funeral e os tios cuspiram sobre o seu corpo quando este foi lançado a uma vala. Incapaz de viver sob o mesmo tecto que o homem que matou a sua filha, Leila pediu o divórcio e está, desde então, escondida para evitar a vingança do marido. "Fui espancada e fiquei com o braço partido", disse a mulher, que agora trabalha para uma organização que denuncia os crimes de honra.
Só no ano passado, 47 mulheres foram mortas por terem violado "a honra" da família só em Baçorá e desde Janeiro deste ano a Comissão de Segurança da cidade garante que o número já vai em 36. Segundo a ONU, pelo menos cinco mil mulheres são anualmente vítimas de crimes de honra em todo o mundo, e, apesar de a maioria decorrer em países islâmicos, estão a acontecer cada vez mais a muçulmanas que vivem no Ocidente.
Há certamente ainda um longo caminho a percorrer para que as mulheres de todo o mundo possam ver reconhecidos os seus direitos de igualdade e para que possam finalmente retirar o véu da vergonha a que são submetidas por uns quantos ignorantes para quem o progresso e a civilização lhes passou ao lado e que ainda acham que os homens podem ser donos das mulheres como se de mercadoria se tratassem.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por esse motivo é que eu acho o povo muçulmano, ignorante, atrasado, estúpido e nojento!

Miguel disse...

Gostaria de contrapor, de destacar tudo o que os muçulmanos deram ao mundo ocidental, a beleza e misticismo de algumas tradições, mas este, como outros exemplos que conheço e não são aqui mencionados levam-me, não a dar-lhe razão na veemência de algumas palavras usadas - não podemos generalizar um povo por algumas das suas pessoas - mas a lamentar que haja gente que não tenha acompanhado o progresso, preferindo continuar a submeter-se a tradições sem razão de ser e que revelam, como referiu ignorância.

Anónimo disse...

Mudança de planos...
Vamos atacar Portugal!