quarta-feira, março 21, 2007

A BELA E O MESTRE





Apesar de não ser espectador assíduo de televisão, e em especial de reallity shows, não pude deixar de visualizar um ou outro momento do novo programa da TVI, A Bela e o Mestre. Confesso que não vi o programa de estreia e que não fazia a mínima ideia do seu conceito, mas assim que, após mais um zapping por alguns dos inúmeros mas cada vez menos atractivos programas televisivos, o comando parou na TVI e não consegui, durante uma boa meia dúzia de minutos mudar de canal. Não pela beleza mais ou menos indiscutível das oito beldades, atirada descaradamente - quase pornográficamente - à cara de um público muito vasto e de várias faixas etárias, mas pelos seus atributos mentais (ou falta deles). A todas eram colocadas simples perguntas a que, para grande estupfação da minha pessoa, não sabiam responder correctamente. Marina, uma ex-miss Portugal chegou ao ponto de ficar a olhar com ar de parva para a fotografia de Fidel Castro enquanto o apresentador lhe perguntava quem era aquela pessoa. Quase orgulhosa da sua estupidez a jovem estudante de Comunicação (!!!!) não conseguiu identificar quem era uns dos homens mais conhecidos da nossa História. Pior do que isso, parecia estar satisfeita consigo própria, ao passar a si mesma, e diante de milhares de telespectadores, um atestado de ignorância. As fotografias vão-se sucedendo, com maior ou menor grau de dificuldade (Sofia Loren, o Rei Juan Carlos, etc etc), mas os resultados são constrangedores, enquanto as beldades exibem com orgulho um sorriso Pepsodent e aquele olhar tipo "eu sou burra, mas os homens babam-se a olhar para as nossas pernas e as mulheres inteligentes invejam-nos por isso. Os homens, Mestres, são chamados cromos, quase todos desinteressantes fisícamente, mas inteligentes, até prova em contrário. É certo que a situação, de tão absurda, arrancou-me algumas gargalhadas, que logo deram lugar a uma crescente preocupação. Só pode ser encenado - pensei. As mulheres, pelo menos aquelas, não podiam ser tão burras, claro! É tudo para a audiência. Porque a ser tudo verdade, e pelas audiências dos primeiros dias de emissão, as mulheres e os homens portugueses SÃO REALMENTE incultos.
Como era de esperar a Comissão Para a Igualdade dos Direitos das Mulheres vai tomar uma posição pública contra o programa, e pondera uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Segundo Elza Pais, a presidente da Comissão, é "inadmissível, no ano europeu em que se promove a igualdade de oportunidades, que um programa de TV apresente estereótipos dos papéis da mulher e do homem em que elas são subjugadas e eles dominadores".

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