quinta-feira, dezembro 21, 2006

ÉPOCA DE ESPERANÇA


Ontem pensei banir o Natal e o final do ano do meu calendário psicológico, pois que, a exemplo do ano passado, alguém fez questão de espalhar sementes de tristeza em expectativas de uma felicidade que tem estado amordaçada à espera de se expandir. Tal como no ano passado, não será desta, pois que essa mesma pessoa que transformou o que tinha como uma festa bonita num dos piores momentos da minha vida não ficou satisfeita e não perdeu a oportunidade de continuar a destilar o seu ódio tão incompreensível como gratuíto em todos aqueles que a rodeiam, inclusive o próprio filho, a quem vai mais uma vez negar o direito à presença do pai, a exemplo do ano transacto. Aguardam-se agora os ventos fortes que hão-de proliferar dessas sementes, na dúvida de que eles possam ser benéficos seja para quem fôr. Isto tudo foi o que eu pensei escrever, ontem, movido por um desespero mudo e descontrolado, por umas mãos trémulas e a voz embargada num cálice amargo de angústia e impotência. Mas isso seria deixar-me enredar eu próprio pelas raízes desse ódio, no olho por olho sempre tão fértil em danos colaterais que acabam por atingir sempre aqueles que mais amamos. Não! Há muita gente a quem o infortúnio de uma morte de um ente querido os condena a dores incomensurávelmente maiores que a minha; pessoas impossibilitadas de presentear as esposas e os filhos, de alimentá-los decentemente, de dar-lhes um lar, sem um canto a que possam chamar seu. É neles que hoje penso, naqueles que vão passar o Natal ao frio, à fome, à míngua do calor de um abraço ou de uma palavra mais reconfortante, nos doentes, nos que foram pela família largados à sorte de um futuro que se esvai no frio intenso da solidão. É neles que eu penso, num conforto egoísta de quem mitiga as suas mágoas na dor alheia de quem está pior que nós, mas também nos outros, do simples "bom dia, como vai?", "um bom natal para si e para os seus!" ao vizinho, ao colega e até ao desconhecido que na rua cruza o olhar com o nosso. Penso nos amigos, nas crianças a quem um sorriso pode significar muito, penso na família, no irmão e na cunhada, na mãe e no meu sobrinho mais novo, a quem não tenho de contagiar com a minha tristeza e a minha raiva, por ainda haver quem não tenha um pingo de amor no coração.

1 comentário:

lumadian disse...

Só não cometo uma loucura, porque tenho pessoas que me amam demais e a quem eu não tenho o direito de magoar. Mas este novo ano que está prestes a começar, fará de mim uma pessoa mais forte que não aguentará mais ser dominado por alguém que veio ao mundo para fazer os outros sofrer, inclusive o seu próprio filho.