segunda-feira, dezembro 11, 2006

FEIOS, PORCOS E MAUS

É uma espíral de demência
com laivos de violência explicita,
todo o mal-fazente é eloquente,
todo o sermão inconsequente,
onde a lei é subjugada a ferros
perante a indiferença e o regozijo
dos que já não crêem, vegetam.
É bom estar do outro lado, pecar,
rasgar os limites, mentir, roubar,
ser feio, ser porco, ser mau... ser gente.
Olhos descrentes, impacientes, inflamados,
comodistas, arrogantes, exasperados, cansados
duma rotina quase sempre amarga.
Ergo as mãos numa prece muda, estéril,
mas após os pontapés qu'a vida já me deu,
oceanos de lágrimas qu'há muito deixei de verter,
é difícil ser mais eu, continuar a acreditar em ti.
Que se f... a paz!
São parasitas, marginais e anarquistas,
contestatários sociais, oportunistas,
ratos à deriva numa sarjeta sem saída,
cuspindo atrocidades duma incongruência inarrável,
quase boçal, do escroto visceral
duma pseudo-inteligência de bolso.
Pressinto a pressa do fim, na intolerância,
no egoísmo e na hipócrisia
das pessoas simples como eu, na fome dos filhos,
na miséria e desespero dos pais,
na impávida impotência dos que mandam e nada fazem;
pressinto o estalar do verniz, a guerra por um triz,
na falência dos mundos que se prometem sem fundos,
no abuso indecente da inocência: Venham a mim!,
as crianças, dêem-me o sangue e o sexo,
os corpos estropiados no horário nobre da TV,
as batalhas rácicas e religiosas, as doenças infecciosas
e o clone desse tal de Adolfo. Dêem-me a guerra!
Desvirtuámos do Paraíso o Jardim, pecámos,
conspurcámos de heresia a Tua ilimitada confiança
de cada vez que sentávamos o cu
no trono das nossas reais e prementes necessidades,
santos de barro d'almas vendidas,
de virtude despidos, de fé descalços.
Dá-me o juízo final! Apaga a luz do dia!
Deixa caír em nós o manto duma noite eterna,
com a ira implacável dum dilúvio insaciável
onde Possas lavar as mãos como Pilatos
nas águas turvas duma justiça cega.

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