
Não, não vamos fazer sexo, não somente sexo. Vamos ser originais, ir mais além, mais que dois animais bestificados na busca do êxtase. Não, sexo não! Vamos fazer amor, partilhar carícias a quatro mãos, da ponta dos cabelos à epiderme dos pés; carícias firmes mas sedentas de ternura. Deixa-me apanhar-te os ombros, trazer-te a boca à minha boca, soprar-te ao ouvido, passar a lingua pelas costas do teu pescoço, tomar o gosto do bico dos teus peitos. Deixa-me oscular o interior do teu umbigo, com delongas, suavemente, induzir-te em ânsias de prazer e daí descer ao céu, à alcova frondosa, príncipio e fim de tantos passeios noctívagos. E ainda assim, sem pressas, voltar atrás, ao teu lugar mais íntimo, desnudar-te os sonhos, arrancar-te os medos, inflamar-te a ousadia inibida, secar-te as lágrimas da alma, lamber os teus desejos, desventrar os teus segredos mais secretos, suavemente, sem pressas, afagar-te a face, olhar-te nos olhos, os dedos roçagantes nos caminhos infinitos de uma terra prometida, baralhar as nossas pernas, fundir nossos corpos, misturar nossas seivas. Vamos fazer de conta que somos cegos, descobrirmo-nos às escuras em apalpadelas minuciosas, violando-te apenas e só em jogos de lençóis. Aí seremos médicos... sem complexos de Édipo, seremos criativos, pedófilos, incestuosos, pais, filhos, irmãos e amantes, assaltantes de um fruto nunca por nunca proíbido; seremos eu e tu, um só, corpo e alma, a essência do sexo num amor despudorado, não somente sexo e todavia sexo, sem nexo, 100% amor, deste amor que te confesso e me traz por ti possesso.
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