terça-feira, dezembro 13, 2005

PAUS & PEDRAS


... e num país que já foi de poetas as palavras são agora paus, as palavras são agora pedras, que ferem na alma o mais incaúto, aquele que delas se dizia amado amante. A devassidão dos meus pensamentos ímpios leva-me a questionar a noção do pecado: será a causticidade das minhas palavras menos digna que a verborreia improfícua daqueles que sobre nada escrevem ou falam? "Se soubesses não falavas, mas tu falas sem saber, falas de cor como um erúdito, escreves muito, não dizes nada." Deleito-me na loucura do juízo final, na falência de afinidades que me atraem e me conduzem invariavelmente ao sentimento, sempre, em correrias inconsequentes. Com a alma mártir de profundas chagas grito na eloquência de palavras dúbias, despidas dum contexto moralmente sóbrio, políticamente correcto, indubitávelmente ético; palavras que flagelam como paus... como pedras.

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