sexta-feira, dezembro 02, 2005

NOITE ESCURA

Noite escura, companheira vadia de velhas vielas e do frio nas costelas; plangem guitarras tristes, gemidos ardentes duma voz castiça, fado de canalhas e coristas; procuro num corpo aconchego e num corpo de meretriz poesia; nos ladrilhos da minha rua já não roda o pião, joga-se vida e morte, azar e sorte, esconde-se o ás; esposa fiel e amada em noite escura deitada nua noutra cama que não a sua; sobe a parada, uma bala perdida, ferida rasgada em peito aberto, vida roubada... desce o pano, vence a morte. Fosse minha doce sorte e meu medo menos forte, de morte matada mataria, de morte morrida morreria, do que envolto em noite escura, fugitivo sem qualquer destino. Houve um dia... todos nós fomos heróis, matámos índios, fomos cowboys, fomos polícias e ladrões, fomos crianças com ilusões.


1994

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