DIFERENTES FORMAS DE MORRER
No decorrer desta semana que hoje finda, fui surpreendido com a notícia de que estou prestes a perder o contacto regular com três pessoas que, mais do que conhecidos, tenho na conta de amigos. Ausências forçadas que se prendem com a necessidade de encontrar novos rumos, uma vida melhor para as suas famílias, um significado real para a palavra futuro, uma derradeira tábua de salvação, qual antigo sonho americano. Em pouco menos de um ano são já perto de uma dezena de conhecidos, amigos e afins, uns mais próximos que outros, que vejo partir por este ou aquele motivo, para sempre ou apenas aumentando a distância física entre nós, daquelas pessoas que o tempo jamais conseguirá fazer apagar da memória. Não sou uma pessoa com facilidade em fazer amigos. Fecho-me bastantes vezes na minha "concha", armo o aspecto mais sério deste mundo, faço-me de sisudo e consigo até parecer mau. Perder em tão pouco tempo tanta gente que me conhece, me compreende e me honra com a sua amizade, é como perder uma parte de mim. Já sofri outras perdas na vida, inclusivé daquelas de quem sabemos não voltar a ver, porque existem lugares donde jamais regressamos e porque tudo o que tem um princípio terá sempre um fim.
António Feio, actor de profissão, disse por estes dias que não tem medo de morrer. Não acredito, mesmo que a morte possa por vezes surgir como uma benção para quem na vida co-habita paredes meias com situações de uma angustia agodizante. Eu tenho medo da morte, especialmente por não saber em que condições ela chegará até mim. Nem todos se despedem deste mundo de repente sem tempo para um último adeus, ou na posse das suas faculdades físicas ou mentais (não quero perder a memória, sem ela fico nu, vazio). Da mesma forma, nem todos serão por ela abraçados na desejada quietude do sono. Apesar de tantas vezes camuflar pequenas maleitas sem qualquer queixume, não me vejo capaz de suportar a dor física com a dignidade que gostaria, ainda que prefira todo o sofrimento deste mundo a continuar assistindo à perda e ausência daqueles que me chegam mais fácilmente ao coração, porque a solidão é um limbo escuro e sombrio, frio. Estás morto sem saberes e essa... é certamente a pior das mortes.
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