6 horas adiantadas correndo para as 7, acompanhando afinal o frenesim corriqueiro das manhãs de Cacilhas. O stress habitual de quem começa o seu dia escravo dos horários e onde aqueles cinco minutos a mais na cama ainda quente acabam por atrapalhar uma boa parte da manhã e estragar o pouco que resta da boa disposição. As manchetes dos jornais encarregar-se-ão do resto. Segue-se uma correria louca entre uma bucha apressada, os transportes e a entrada ao serviço.
Terminal fluvial de Cacilhas. Nada de novo neste ritual diário, entre um "bom dia" e um aperto de mão a quem só conhecemos de ver passar, já lá vão tantos anos. Aí vêm eles, nómadas oríndos dos países do leste europeu. Chegam quase sempre depois das 6h15, 6h20. Passam às dezenas, em grupos de 5 ou 6 e deixam rastro. Recordo-me de Ettore Scola e do seu emblemático Feios, Porcos e Maus, de 1978. Por instantes, quase esqueço a miséria e a imundice que me entra pela vista em forma de poluição visual. Já só com muito boa vontade consigo fazer o mesmo com o odor que me invade as narinas e dificulta a respiração. Fazem barulho, discutem alto entre si, com a mesma intensidade com que riem, mostrando aquelas fileiras de dentes amarelados e mal-tratados enquanto tentam esquivar-se sem pagar por baixo dos torniquetes que dão acesso ao embarque. O pessoal responsável não esconde o seu desagrado à medida que os fazem voltar para trás. "Amanhã voltarão a tentar fazer o mesmo, e depois, e depois...", está-lhes no sangue. Riem-se, indiferentes aos esgares de mal-estar que a sua higiéne causa nos restantes passageiros. Voltam a dar corda aos pés meio calçados ou meio descalços, mas totalmente sujos, numa romaria até à capital. Entre novos e velhos, homens ou mulheres, metade já carrega nas mãos uma canadiana arranjada sabe-se lá onde e como - embora apenas um ou dois pareçam precisar -, e que visivelmente, à maioria, atrapalha mais do que ampara. Penso se não seria melhor tapar a boca com um lenço à sua passagem. A pobreza só por si não justifica tanta falta de higiéne. Será que não existem leis que protejam os cidadãos de ter de conviver diariamente com isto?
Minha querida morte!
Há 5 dias
3 comentários:
Se proíbem as pessoas de fumar nos transportes e mesmo dentro da estação, seria muito mais lógico proibir "pessoas" de entrarem dentro dos mesmo sem o mínimo de condições de higiene. Nos 30 metros que os envolvem é impossível respirar. Eu pago para viajar de barco, se pago tenho de exigir viajar com o mínimo de condições.
Não sei se sabes mas a Tst tem um decreto afixado nos autocarros que proíbe a entrada a pessoas com visível falta de higiene...mas infelizmente na nossa empresa não se preocupam com isso...talvez se em vez de estarem atrás das secretárias experimentassem um dia fazer o nosso trabalho iam ver como principalmente a nossa saúde (pois aceitamos aquele dinheiro nojento e respiramos aquele ar tão desagradavel) e também a dos passageiros é posta em causa diáriamente...mas eles não se interessam...foi e será sempre assim
Faz falta uma nova revolução de Abril. Isto não é democracia!!!
Ps: a reparar no comentario do "jabarua."
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