O meu primeiro beijo foi demasiado rápido e desajeitado, à porta de casa dela, após o pedido de namoro arrancado a ferros na esplanada do Radical, com o embaraço próprio de um adolescente que já não o era e que sentia o chão fugir-lhe debaixo dos pés, numa proeza nunca ousada. O coração, esse, batia como um tambor - bum! Bum! Bum! - desenfreadamente. Onde escasseava tempo sobrava um querer desmesurado e inflamável que mais tarde havia de consumir em cinzas um frágil castelo de cartas alicerçado em sonhos. A vida é assim, faz-se de pequenos detalhes, alimenta-se de grandes sentimentos. Hoje, no aniversário desse dia, recordo o primeiro beijo. Não foi o melhor. Nesse campo, a tendência é sempre para melhorar, mas o sabor das primeiras vezes acompanha-nos até ao último dos nossos dias como um perfume suave mas inebriante, no escrínio secreto das lembranças.
E se a memória tem cheiro, as minhas têm o odor peculiar do cravo e da revolução.
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