terça-feira, junho 10, 2008

DAR A CARA

A esta hora que vos escrevo, a greve dos camionistas já fez a primeira vítima. Não sei se será a última e prefiro não me alongar sobre o assunto sem saber em que condições se deu a tragédia. Até agora só nos foi dada uma versão dos acontecimentos, a da vítima. A verdade é que ao fim dos primeiros vinte minutos de telejornal tive de sair de casa para espairecer. Não devia ser para ler sobre problemas que as pessoas viriam ter a este blogue, mas por vezes sirvo-me dele como tubo de escape. Compreendo melhor agora porque vivemos sempre tão ansiosos pelo próximo jogo da selecção, mesmo que o futebol pouco ou nada nos interesse. Precisávamos de outro Euro em Portugal. Vi na televisão que há enormes quantidades de leite a correrem o risco de se estragarem, devido aos problemas já referidos, dos combustíveis e do boicote dos camionistas. Em Espanha, como em França ou Portugal, pessoas desesperadas tomam atitudes irracionais e violentas contra gente inocente que precisa de trabalhar para colocar dinheiro em casa. Lá como cá, destroem-se mercadorias, deixa-se estragar comida, numa altura em que milhões de pessoas passam fome no mundo. Eu sei que por vezes somos criticados pelos nossos brandos costumes, mas questiono-me até que ponto serão úteis as greves e para quem. Não termos de ser brandos não significa que sejamos violentos. Nos dias que correm, é assustador, quão ténue pode ser a linha que separa o homem moderno do selvagem que habitava as cavernas. Disseram-me hoje que isto assim não vai lá, que em vez de andarmos às turras uns com os outros, deveríamos pegar nos camiões e entrar pelo Palácio de São Bento. Seria porventura mais rápido e certamente mais eficaz. Mais do que tudo, temos urgentemente de ponderar sobre os nossos próprios comportamentos, porque cada atitude nossa, por mais justa, tem sempre repercussões positivas ou não sobre outras pessoas. Mais do que de discursos inflamados de políticos que pretendem apenas tirar vantagens para si próprios, sem se importarem com os fogos que ateiam nem com os reais problemas das pessoas, o País precisa urgentemente que o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro falem às pessoas, dêem a cara, sem discursos de promessas que não podem cumprir. Se a situação é má, assumam a realidade, apresentem alternativas, alimentem a esperança, apelem à calma e ao bom-senso, assumam responsabilidades. Sejam sérios, frontais, honestos, pelo menos uma vez na vida. Neste Dia de Portugal, é de soluções que os portugueses precisam de ouvir falar e não de discursos históricos e de futuros cor-de-rosa, de meias palavras ou de sorrisos cínicos, se realmente queremos acabar com este clima de violência latente e de medo que vai tomando conta do cidadão comum. Pelo menos é essa a minha opinião, certa ou errada, talvez irrelevante para a maioria daqueles que aqui vêm, branda se calhar mas nunca fomentando a agressividade, modesta mas minha... porque vivemos numa democracia, onde muitos lutaram pela liberdade para que hoje possamos dizer e fazer aquilo que achamos correcto, desde que isso não choque com a liberdade dos demais.

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