domingo, maio 13, 2007

PORQUE HOJE É DOMINGO...






... e já se passaram dez dias desde o desaparecimento da pequena Maddie, sinto que devo aprofundar-me sobre uma dúvida que surgiu há dias, numa conversa de café. Não é a primeira vez que falo aqui da pequena menina inglesa que tem feito o dia-a-dia deste país nos últimos dez dias, quase passando para segundo plano os problemas da Câmara de Lisboa, os incidentes pós-eleicções em França ou o diploma do pseudo-engenheiro Sócrates. Todavia, nem por uma só vez mencionei o desaparecimento da "nossa" Joana ou todo o caso que resultou nesta última semana na saída da prisão do Sargento Gomes e da pequena Esmeralda. Porque razão o fiz? Porque


razão as televisões e jornais dão mais destaque à tragédia dos McCann do que ao rapto de qualquer criança portuguesa? Seria a polícia tão dedicada e célere se em iguais circunstâncias, os intérpretes deste drama fossem outros? Sucedem-se a um ritmo vertiginoso e comovente os apelos e manifestações de auxílio em prol da criança desaparecida, do Algarve ao Minho, de Inglaterra a Fátima, onde o nome de Madeleine deve constar de quase todas as orações. Quantas pais haverá que estão ainda hoje à espera de notícias sobre o paradeiro dos seus filhos; que não tiveram tanta ou qualquer atenção da parte dos media ou das forças policiais... Não serão as crianças portuguesas iguais às inglesas? Claro que são! Infelizmente, no subconsciente de cada um de nós, onde o sangue dos outros e as desgraças continuam a ser o que mais nos atrai na televisão, fazemos ainda diferenças, escolhas, a cor favorita, a camisa mais bonita, o filho preferido. Porque razão gosto mais de Cicrano do que de Beltrano? É natural, ninguém leve a mal. O drama do casal inglês é mediático, extravaza as fronteiras deste cantinho à beira-mar plantado, onde quase nunca nada acontece. Por estes dias, fala-se de Portugal lá por fora, bem ou mal. A miúda tem um olhar bonito, o cabelo louro como um anjo, parece uma pequena boneca que gostaríamos de proteger e só o imaginá-la maltratada ou sexualmente abusada, afastada dos pais e dos irmãos pequenos, dá-me um nó nas tripas e um ódio insane sobre as bestas que a separaram do seio familiar. Depois, há ainda os pais, jovens, atraentes e com dinheiro. Nada como o Sargento Luís Gomes, que à boa maneira portuguesa, esconde das autoridades e dos pais biológicos a criança que criou e a quem deu mais amor do que se fosse ele o pai, mesmo que para isso tivesse de ir preso. Ah, granda homem! É de macho! Os pais de Maddie não. Parecem ambos delicados, tão debilitados com o sucedido que parece estranho aguentarem-se ainda de pé. Nada como a mãe da Joana, capaz de maltratar fisícamente a filha, para que esta não a incomodásse nos seus devaneios lúdicos. Desde a nacionalidade, à raça, ao sexo, ao estatuto social das vítimas como à sua aparência, tudo conduz a opções que, num mundo perfeito não deveriam de existir, escolhendo este ou aquele em desfavor daquele outro, marginalizando ou sendo marginalizado, diferenças de tratamento que persistem dentro de cada um de nós, num mundo cada vez mais globalizado e dito liberal, mas onde essas mesmas diferenças nos são diáriamente e constantemente atiradas à cara de uma forma ou de outra.

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