pedaços de um todo imenso e frágil,
são recordações, cores, nomes, lições de moral,
o certo e o errado, passado e futuro
dum presente sempre ausente.
São os cheiros da infância que se esfumaram
nas voltas qu'o ponteiro dá,
vidas e vidas, pequenos seres, pequenas vidas,
actores dessa eterna comédia
qu'é o drama da vida de todos nós.
Sou um ponto no espaço
físico-temporal universal,
sou a pedra arremessada sem destino
deambolando às cegas p'lo infinito.
Outras pedras há, outras vidas, outras mortes...
alguém que morreu ou foi morto
p'la indiferença, pela falta de amor, pela falta de vida.
Os pais não o compreenderam,
a mulher amada não o amou,
a sociedade não o aceitou: marginal.
Desistiu. Morreu? Ou foi morto?
Ninguém viu, ninguém sabe quem era
nome ou morada.
Ninguém, um parasita.
Eu não quero morrer, amem-me! Odeiem-me!
Por favor, não me ignorem!
Amada mãe, amado pai, qual de vós se esqueceu,
qual de vós não se lembrou de usar... Estou aqui!
Vocês decretaram a minha presença.
Porquê? Que mal vos fizeram? Quem a mim vai recordar?
Quem de mim se vai apaixonar?
Aceitai a culpa e o fracasso
que fez de mim o qu'hoje eu sou,
um pedaço de nada, do muito que vos quero.
Amor, eu e tu num cavalo de cordel
num sonho de papel timbrado
25 linhas dum azul em dó maior,
sinfonia desta vida sem cor. Negro destino,
negra a vida, negro penar, negro penar...
Morte. É branca a morte
como as asas dum cisne encantado,
bagaço em que m'embriago, Eu,
amargo tédio de comigo ter de conviver,
porque tem de ser.
Fragmentos são filmes a preto e branco
sem heróis nem vilões, sem roteiro... só vazio
e improvisação,
insolúveis degredos da matéria,
fruto da palha que comemos,
fragmentos desta vida acordados
recordados a contra-gosto, pelas mãos
dum qualquer poeta de merda.
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