quarta-feira, novembro 30, 2005

DEIXEI VOAR OS SONHOS

DEIXEI VOAR OS SONHOS


Perdi o desejo d'ir p'ra cama sem dormir, d'olhar pró lado e procurar-te em vão no aconchego dum abraço mais apertado; perdi-me dos caminhos do teu corpo, do gosto, desse gosto que tinha da tua boca na minha (leite e mel), quando me fazias acreditar que tudo era possível (mesmo o impossível); quando ainda me beijavas, quando ainda me querias, quando em ti me despojava do cansaço e me encontrava no afago dos teus olhos nos meus. Já mal nos olhamos sequer, sofremos baldamente em noites dúbias de um prazer efémero e desleal, em lacónicos túgidos de um deleite velado e estéril. Perdi a vontade de acordar, a insistência em existir, a liberdade individual, uma réstea de respeito, os nossos direitos ferozmente fornicados na cúmplicidade ambígua dos nossos orgasmos simulados. Perdi a pressa de chegar sem saber onde nem porquê, a vontade de lutar, a adrenalina de ganhar; abri as janelas da alma sem lágrimas e deixei voar os sonhos de um amanhã por descobrir, nas asas dum fado tido como certo.

21ABR03

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