quinta-feira, fevereiro 02, 2017

MUDANÇA

mudei-me para OLADOBDAVIDA2.BLOGSPOT.COM

sexta-feira, junho 03, 2016

FEIOS, PORCOS E MAUS... E AINDA POR CIMA DESDENTADOS (ou uma viagem do Portugal profundo ao Brasil dos morrtos e favelas, passando pela lua até à India)

Num comentário ao que de mais relevante me marcou esta semana começo pelas mais de três dezenas de selvagens que violaram uma jovem de 16 anos no Brasil e não satisfeitos, ainda publicaram o vídeo da sua façanha (?) nas redes sociais. Já as habituais vozes se levantaram a dizer que foi consensual, que a rapariga agira ou vestia de forma a instigar tal comportamento repugnante e ultrajante, mas que não é mais do que um daqueles crimes sem perdão para os quais qualquer castigo por mais doloroso será sempre pouco. Afinal que mundo é este que trata as mulheres como objectos sexuais, como se fossem seres de segunda e não merecedores dos mesmos direitos e respeito que os homens? Evoluímos, dizem alguns, deixámo-nos dos preconceitos e falsos moralismos do passado, inventámos a roda e a matemática, aprendemos a diferença entre o certo e o errado, fomos à lua. Então o que motiva comportamentos como estes? Não somos selvagens só porque nunca vimos o mar ou sentimos a neve no rosto ou por sermos desdentados. Não somos melhores ou piores por termos educação, mais ou menos dinheiro, por sermos brancos ou negros, homens ou mulheres. Natureza humana? A verdade é que à primeira tentação damos primazia aos nossos instintos mais básicos e selvagens como se ainda vivessemos em cavernas fazendo fogo com dois pedaços de madeira. Deve a mulher em alternativa deixar de se cuidar, tapar-se até ao pescoço, esconder as formas porque de outra forma estará a incentivar a violação? Mas o piropo é que é crime. Envergonhem-se os senhores da justiça e do progresso! Não pode uma mulher entrar num autocarro repleto de homens sem correr o risco de ser violada ou assassinada? Homem que é Homem não se deixa guiar pelo instinto, não bate na mulher, não impoe a sua vontade contra a vontade alheia, não viola, não se escuda em acções injustificadamente incontroláveis para satisfazer desejos egoístas. Que sociedade é esta sem moral, tão depravada, conspurcada por um desejo insaciável de ambição, de corrupção, de direitos isentos de deveres, de uma sede egoísta de poder que não vê limites e que continua a passear-se incólume e sem remorsos sobre um mar imenso de crimes hedíondos e pecados atrozes, enquanto as beatas criticam decotes junto ao altar.

domingo, setembro 06, 2015

FILHOS DA GUERRA - ANJOS CAÍDOS



 I

Podia começar por falar em destino, mas o destino não tem nada a ver com isto. Nem o destino nem a sorte ou o azar de ter nascido na Síria, no Iraque, na Palestina, como na Bósnia ou na Ucrânia, etc etc etc. Continuo a pensar que o destino somos nós que fazemos e esta criança não teve tempo para sonhar, muito menos para fazer fosse o que quer que fosse com a sua vida. Ninguém planeia morrer aos três anos numa praia da Turquia... ou noutra qualquer. Aylan é um de tantos filhos da guerra, anjos caídos, uma das mais recentes e provavelmente a mais mediática vítima entre os refugiados de mais um dos inúmeros conflitos que assolam este nosso planeta azul, que, tal como a lua é cada vez mais - e apenas - bonito e inspirador se visto ao longe. Não que o nome interesse. Não interessa nesta idade como não interessará aos vinte anos, assim como no ocaso de uma vida "normal", para lá dos 70's. No fundo, só importa aquilo que fazemos. Nós não escolhemos o nosso próprio nome, não escolhemos ser bonitos ou feios, altos ou magros, louros ou morenos, de olhos azuis ou castanhos. Também não escolhemos ser homens ou mulheres, brancos ou pretos, europeus ou americanos, árabes. E no entanto sabemos como esse destino em que não acredito está tão interligado à importância dita menor destes detalhes que de pormenores nada têm. Pormaiores, talvez. Ninguém escolhe nascer no meio da guerra ou da fome. Aylan não teve nas suas mãos o poder da escolha, aquilo que realmente importa que é o que fazemos da vida. Cada escolha, cada decisão, leva-nos ao que queremos ser e fazer pelos outros, por um mundo melhor ou pior, faz-nos ser bons ou maus, cair e levantar, deixar uma marca, memórias, vivermos para além da nossa existência física. Este menino a quem a infância - muito provavelmente limitada e atribulada - foi roubada em tão tenra idade não teve tempo para muito, porventura para brincar tampouco, mas a sua imagem largado das águas naquela praia da Turquia, para lá de qualquer questão moral, poderá ajudar a mudar consciências, a sensibilizar todos aqueles que podem mudar - todos nós - muito ou pouco, sendo que o pouco é melhor do que o desagrado geral das vozes que protestam e dos braços que se quedam invariavelmente cruzados sem nada fazerem porque podem pouco. O mundo não evoluiu com um cruzar de braços, a roda e o fogo não nasceram da inércia. Não basta ficarmos chocados a assistir enquanto milhares de Aylan's vão desperdiçando as suas vidas escorraçados de suas próprias casas, ao sabor das balas, da violência e do ódio, para longe das suas raízes à procura de um futuro cujo prazo de validade seja superior a três anos. Será que a humanidade atingiu um ponto em que continua a ser normal criar barreiras, hostilizar, discriminar tudo o que nos é diferente, pessoas, religiões, ideias? Será que após anos e anos de "evolução" continua a imperar o espírito das cruzadas, dos campos de concentração para aqueles que não são de raça pura, a perseguição das bruxas pela inquisição, o klu klux klan? Se o amor, o respeito e a compreensão são palavras vãs deveria ser proibido nascer nos países em guerra...

quinta-feira, janeiro 09, 2014

DOS CHEIROS E SONS DA ESCRITA

 
Já não escrevo como escrevia, pensei, após meia dúzia de linhas escritas quase à pressa. Faltam-me os cheiros como me faltam os sons, do que antes parecia uma obrigação e era apenas prazer, necessidade. Bate-me hoje forte a saudade de escrever directamente na folha branca ou, como mais tarde o fazia, do martelar sincronizado das teclas da máquina de escrever, de ver cada folha por mais alva tingir-se, não de palavras, mas de sentimentos, de sonhos desfeitos pelo tempo, de sonhos a tempo de serem bem mais que sonhos, de esperança, riso e lágrimas, de vida, umas vezes vivida, outras... apenas pensada.

quinta-feira, março 28, 2013

DE SÃO E DE LOUCO...


qual será a nossa verdadeira natureza?
Hoje, recordei aquela antiga teoria de que qualquer um de nós pode matar outra pessoa, associando-a a histórias como a de Jekyll and Hyde e tantas outras, verosímeis ou não que nos deixam sempre de boca aberta, tal a capacidade do Homem em espantar-nos com atitudes indignas mesmo do nosso antepassado e primitivo habitante das cavernas. Seremos essencialmente bons ou maus? Qual será a nossa verdadeira natureza, os nossos instintos mais latentes? Nos Estados Unidos, uma mãe matou o próprio filho, de três meses, porque o choro da criança estava a incomodá-la, enquanto jogava ao Farmville. Ela confessou às autoridades ter abanado o bebé, fumando um cigarro em seguida, na tentativa de se acalmar, mas tornando a abaná-lo até ao desfecho fatal. Talvez seja mesmo verdade que qualquer um possa matar, como até roubar. Experimentem ter uma família sem recursos de subsistência, perderem o trabalho, verem os filhos doentes, chorando com fome... Uma das consequências do agravamento do poder de compra e de uma crise cujo fim não se vislumbra - antes pelo contrário - será, certamente, fazer aumentar a criminalidade. Simples lógica dedutiva. Matar não será acto de uma sequência tão racional - na maior parte das vezes -, obedece sobretudo a motivações, fruto de um instante, de uma loucura que nos tolda os sentidos e nos traz à flor da pele os impulsos mais irracionais e primitivos, que julgávamos não existirem, depois de anos e anos de evolução e educação. Culpar o Facebook e os seus jogos soa-me a uma desculpa tão frágil como associar a criminalidade à violência dos filmes. Resta sempre o stress, tão conveniente para justificar todas as nossas emoções mais instáveis, as fúrias súbitas, o mau humor e a falta de paciência, a luta diária por uma vida - ou sobrevivência - pelo menos no limiar da dignidade. Sei que os dias parecem cada vez mais curtos, independentemente da mudança da hora que aí vem, que o tempo que temos se transformou numa corrida diária, de tarefas cronometradas ao segundo. São os transportes,  as relações, as refeições já sem a família toda junta, sem tempo sequer para nos sentarmos, o fast-food, o fast-fuck, a televisão a silenciar o diálogo, os relógios de ponto e o medo do futuro, tudo num ritmo vertiginoso - time is money - como uma volta num carrocel que teima em não parar, onde qualquer descuido, qualquer falta de atenção podem ser suficientes para um game over. Uma espécie de tortura psicológica, em que matar ou morrer chega a parecer para muitos natural e razoável, mesmo lógico. Não para mim. Natural, razoável é jogar um jogo na internet de vez em quando como forma de distracção, assistir a um bom filme, mas sem usar esses devaneios como uma concha onde nos escondemos e sentimos imunes e tantas vezes impunes, sem cair no vício de aí permanecermos horas e horas, especialmente quando há uma vida que tantas vezes nos passa despercebida, de pormenores, de convívio com pessoas reais, amigos, família, que não têm culpa do ritmo frenético, dos humores inconstantes e que não têm por isso de ser transformados em reféns de uma guerra interior, invisível, tendo de chorar ou preencher formulários por um pouco da nossa atenção e boa disposição. Um jogo não é mais do que isso mesmo, algo onde ganhamos ou perdemos, morremos e recomeçamos, onde temos a opção de carregar no pause de cada vez que quisermos. A vida não tem essa opção, por isso cada minuto conta tanto, cada minuto deve ser valorizado como um milagre, uma benção. Um passeio ao ar livre, uma ida ao cinema, um jogo de computador - em família, dialogar, amar, podem fazer muito mais por nós que uma embalagem de Valium ou de Xanax.

O MUNDO É UM DIA ATRÁS DO OUTRO...

... onde acordar, o simples facto de estar vivo pode ser o maior acontecimento do dia.


O despertador toca às 5h20 e apanha-o acordado desde as 5, fazendo tempo para se levantar, o que só acontece pelas 5h30, dia sim dia sim. Os breves rituais de limpeza não costumam exceder os 10/15 minutos, excepção para aqueles dias em que a máquina de barbear fica sem carga e o deixa mal-humorado, pelo inesperado da situação. Não gosta de surpresas. Às 5h50 está já fardado e pronto a sair de casa. As poucas pessoas que encontra pelo caminho são já caras conhecidas, embora não haja trocas de palavras entre eles. Ainda com tempo, toma o primeiro café da manhã no local do costume, passando a vista pelo jornal, o mesmo que compra desde que começou a ter dinheiro para as suas próprias despesas. O relógio de ponto responde com um inexpressivo "obrigado" à picagem de "entrada ao serviço", que espera vir a decorrer dentro da normalidade, de gestos que se repetirão durante as oito horas seguintes e que conhece já de cor, mesmo as reacções quase sempre imprevisíveis do chamado factor humano, mas que ele aprendeu a prever, como um bom psicólogo. Um bom dia de trabalho para um funcionário competente é aquele que não traz surpresas. O relógio volta a ditar as suas leis, quase ininterruptamente, porque tudo tem uma hora certa, mesmo o intervalo para a refeição, cronometrado quase ao segundo. Quase se deixa apanhar desprevenido pelo tempo para o lazer, maioritariamente partilhado pela família, que o obriga a fazer concessões a um descanso merecido mas constantemente adiado pela azáfama do lar. Quase sente saudades do trabalho. Ouve o telejornal, que, conjuntamente com aquilo que ouviu de amigos e colegas no trabalho, desconhecidos na rua e o relatório sobre as novidades da vizinhança, diariamente transmitidas pela esposa, vão formar a sua opinião, acostumado que está a tomar como verdade inquestionável tudo o que lhe dizem, tudo o que ouve. Pensar exige muito trabalho e tempo que não possui. Tem consciência dos poucos minutos que dedicou aos filhos, mas não quis incomodá-los enquanto gastavam largas horas do seu tempo lúdico em frente ao computador e à playstation, com os seus inúmeros amigos mais ou menos virtuais. Vai-se deitar pelas 23h00, sozinho, depois de um beijo rápido à esposa, que "agarrada" à televisão mal deu por ele. Durante a semana as telenovelas acabam mais tarde, pelo que a necessidade de descanso obriga a que só possa fazer sexo aos feriados e fins de semana, quando está de folga no dia seguinte ou uma rapidinha quando não está e nem dói a cabeça à Maria.
Há pessoas assim, fechadas no seu mundo perfeito, avessas ao pensamento próprio, às mudanças, às surpresas e aos sonhos, que provavelmente trariam desilusões. Quem não sonha dificilmente sofrerá, por não ter expectativas. Poderiam descrever os seus dias numa tabela, como num horário escolar em que cada disciplina obedece a um horário próprio; Pessoas para quem a vida é um jogo com princípio, meio e fim, onde depois de transpostos alguns níveis mais ou menos exigentes (infância, escolaridade, namoro, serviço militar, profissão, casamento, filhos), se protegem na saída fácil da rotina diária e sem surpresas, onde os maiores picos de excitação são as "discussões" sobre os resultados da bola, as peripécias das telenovelas ou o dia a dia de uma vizinhança com mil defeitos. Há pessoas assim, adormecidas em vida, daquelas que não fazem acontecer, adaptam-se simplesmente, deixam-se levar pela maré, um exército imenso de "yes man", pouco mais que máquinas, num mundo cada vez mais globalizado, a matar o génio, o livre-pensamento e a individualidade.

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

PEDRAS NO CAMINHO

O caminho parece fazer-se de muitas pedras, muitos obstáculos, de tal ordem que o castelo que vou erguendo e a que chamo de vida se vai compondo, com os alicerces bem fortes, sólidos. Não é qualquer tempestade que o derruba. Nem que chovam pedras. Um dia ainda vou encará-los de frente, a esses que gostam de atirar as pedras e que se escondem sob as máscaras das leis e das percentagens, dos regulamentos e que de sentimentos nada sabem, não conhecem. A esses vou mostrar o meu castelo, o muito que se pode fazer com pouco e talvez comece a cantar também o Grândola Vila Morena.

quarta-feira, novembro 07, 2012

OCASIONALMENTE

Ocasionalmente... rimos,
temos prazer quando sóbrios, fazemos sentido,
somos criativos, construímos,
sonhamos mas também agimos.
Ocasionalmente fazemos dieta, ginástica,
aprendemos, celebramos,
temos dias, datas marcadas, damos,
somos quem realmente somos,
quem queremos ser.
Ocasionalmente damos beijos, abraços, carícias,
dizemos "amo-te", "obrigado" e "desculpa",
gostamos da imagem reflectida no espelho,
Ocasionalmente somos pais, filhos,
casais e amantes, irmãos,
gente que sente, humanos.
Ocasionalmente fazemos amor,
não apenas sexo, pensamos, agimos,
procuramos o certo,
somos solidários, partilhamos.
Ocasionalmente, mais do que respirar, vivemos.
Ocasionalmente... nem sempre.

domingo, outubro 07, 2012

VIRADOS DO AVESSO

Realmente, não sei como ainda me surpreendo com o estado a que chegaram as coisas não só em Portugal, como na Europa e não só, ao nível da política, do estado social, como ainda das mentalidades. Está tudo virado do avesso, à imagem da bandeira que tanto nos diz, hasteada negligentemente por duas pessoas com tão altas altas responsabilidades e que não tão poucas vezes primam por meter os pés pelas mãos. Mas não é apenas o mau presságio e a pulga atrás da orelha que fica de cada discurso de Passos Coelho, ou o efeito xanax dos monólogos de Vitor Gaspar, de consequências tão terríveis e funestas como o atentado de hiroshima, que me trazem hoje preocupado como ainda revoltado. Grandes poderes trazem sempre grandes responsabilidades, mas infelizmente, aqueles que têm o poder e a disponibilidade dos meios de comunicação pecam na maioria dos casos por não servirem de exemplo a ninguém, deixando no ar a ideia de que o barco em que o nosso futuro navega anda à deriva, no completo desnorte daqueles que mandam por mandar, cegos a alternativas que não sejam as suas ideias egocêntricas e quase sempre infrutíferas como tiros de pólvora seca. Tiros no pé, foram dados aqui tão perto de nós, por um conselheiro do governo espanhol, de 71 anos, que disse apenas esta pérola de sabedoria: "As mulheres são como as leis, foram feitas para serem violadas". Meu caro José Manuel Castelao Bragaño, permita-me, num dos poucos direitos adquiridos que ainda não nos foram espoliados, o da liberdade de expressão, afirmar que o senhor é um ignorante, e que o facto de ter apresentado demissão pouco depois destas afirmações de nada lhe vale nem limpa a nódoa da verborreia de que foi acometido em tão infeliz momento. Meu caro senhor, em 2012, nos antípodas da idade da pedra e dos instintos mais básicos, as pessoas regem-se por regras, usam as palavras como armas e cospem nas violações, de leis, mas principalmente de mulheres. Por onde andou enquanto o mundo evoluía?

quarta-feira, setembro 05, 2012

MORRER POR AMOR?


MORRER POR AMOR?


"A Millionaire's First Love" é o título de um drama sul-coreano, daqueles que deixam os nossos olhos marejados de lágrimas rebeldes, por mais insensíveis que queiramos parecer. É a típica história do rapaz rico e da rapariga pobre, que a princípio parecem não encaixar mas que acabam inevitavelmente por se apaixonarem. Como é previsível neste tipo de filmes, o final feliz encalha sempre num "mas", cujo fundamento costuma ser o de fazer o filme render durante hora e meia a duas horas. Geralmente esse "mas" é um terceiro elemento, o terceiro vértice de um triângulo amoroso. Não nesta história. Quando tudo parecia ter tudo para dar certo, descobrimos que a rapariga doce e frágil sofre de uma doença incurável e que as emoções fortes, como amar, podem apressar o seu trágico destino. É aqui que eu quero chegar, apesar do filme valer por muito mais do que apenas isto. Quanto vale a vida? Quanto vale um grande amor? Deveria o rapaz apostar tudo no sentimento que, unindo-os, iria acabar irremediavelmente por separá-los precocemente? Com que direito? Deverá o amor ser tão egoísta, ao ponto de se sobrepor à própria vida? E de que vale a vida se tivermos de abdicar dos sentimentos? Na ficção como na realidade, são muitos os casos de quem sacrifica a sua vida por amor, de quem abdica da sua felicidade em troca da felicidade da pessoa amada, mas será essa extrema demonstração de altruísmo ainda válida nos dias de hoje? Morrer por amor, como se não houvesse nada mais importante na vida. E matar? Será sensato ou sequer legítimo - e já não falo das mortes por ciúmes ou apenas baseadas em leves suspeitas - amar, mas amar de tal forma intensa, mesmo sabendo que, como no caso do filme, esse amor irá abreviar a vida de quem amamos mais do que a nós mesmos? Quanto vale a vida? Quanto vale o amor? Ficar ou partir, matar ou morrer (por não poder amar). Muito mais conhecido do que este filme é "A Walk To Remeber", baseado no romance de Nicholas Sparks, onde a filha do pastor de uma pequena cidade ajuda o protagonista a ensaiar para uma peça, na condição de que ele não se apaixone por ela, que sofre de leucemia e que, acaba numa corrida contra o tempo, de modo a conseguir concretizar todos os sonhos dela antes de morrer. Será amar então mais importante do que - não diria viver, mas antes sobreviver? Francisco Moita Flores disse o seguinte: "...a morte é a ausência do beijo, do abraço, do toque, do cheiro de uma pessoa...".


E eu assino por baixo. De que vale uma vida longa se o amor nos for negado?
 
(retirado de um texto meu em A Voz das Palavras)

terça-feira, abril 24, 2012

ONTEM, HOJE E AMANHÃ

"Ontem eras a menina mais alegre e mais bonita que eu já conheci"

Nasci antes do 25 de Abril de 1974, não muito. Não tanto que me possa recordar de quaisquer factos que se tenham passado naqueles dias tão importantes para a nossa história, que me permitam dizer com maior ou menor exactidão onde estava eu no 25 de Abril de 1974. O que sei, aprendi nos livros da escola e naquilo que fui perguntando aos meus pais e a conhecidos que viveram de perto esses dias. Quis saber o que sentiram, da importância, da razão das lágrimas nos olhos, da alegria e da tristeza, da luta sem sangue derramado por um futuro que me parece sempre adiado, cada vez mais escondido numa gaveta esquecida lá no Palácio de São Bento, tão presente nas minhas memórias, não pouco o tempo que passei numa casa dum prédio situado mesmo em frente, com uma vista privilegiada, que fomentava os meus sonhos do menino que fui... ontem. Do pouco que sei e do muito que ouvi, sei da cor viva de um País renascido, dos ideais de esperança de um povo até aí como o fado, cinzento e triste. A Revolução, os cravos, os militares que resgataram a crença em amanhãs melhores, são tudo imagens que fazem parte das minhas memórias. Foi bonita a festa, pá! Da opressão e da censura, da pide e do homem que governava sozinho até à tão ansiada liberdade foi um passo bem maior que o dado por Neil Armstrong em solo lunar, mas não menores em importância. Os militares libertaram um país descrente, os políticos tomaram o poder e criaram a democracia, a liberdade de expressão, deram-nos direitos e um motivo para sonhar. Ontem, o país tinha finalmente uma face alegre e bonita, resplandecente. Depois, não muito, entre os vivas à democracia e os feitos dos heróis recentes, já se ouviam alguns queixumes - não se confunda com nostalgia, mas queixumes - de que o país das maravilhas de Alice não era assim tão maravilhoso, nem o futuro uma estrada radiosa, sem sobressaltos. Quais velhos do Restelo, sussurravam já não entredentes como no antigo regime: "antigamente... antigamente havia trabalho para quem queria trabalhar, o pouco que se ganhava dava para comprar mais do que se compra hoje, havia agricultura e pesca, e até a comida tinha outro sabor. O Benfica e o Sporting ganhavam mais campeonatos." O país que era governado por um ditador estava agora dividido nas teias do poder político, entre a direita e a esquerda, norte e sul, poder e oposição, numa guerra onde o povo - pelo qual se fez a revolução - estava sempre ou quase sempre à margem, excepto nas campanhas eleitorais, nas promessas já tão gastas de tão repetidas, enquanto as nossas riquezas e recursos eram delapidados. Amanhã comemora-se uma vez mais uma festa que devia ser de todos, mas especialmente do povo, a consagração de tantas conquistas que nesse dia e nos seguintes se fizeram, mas o presente já não é tão colorido como ontem e o futuro é sombrio, carregado de medos e incertezas. Onde páram os ideais de 74, agora que até as suas figuras proeminentes se afastam das comemorações oficiais? Haverá ainda algum Salgueiro Maia, algum D.Sebastião renascido das brumas que nos devolva a esperança e tudo aquilo por que lutámos e um dia conquistámos? Onde pára a esperança de um amanhã melhor, um futuro para nós e para os nossos filhos?

segunda-feira, junho 06, 2011

MUDANÇA

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
 
 
Mudança... de hábitos, de vontades, de ideias e de gente, imprevistas ou calculadas, mais ou menos radicais, irrefletidas ou mais ponderadas e conscientes, a nossa vida segue ao ritmo das mudanças. A insatisfação inerente ao Ser humano, a sua ambição, o fazer face às próprias necessidades ou simplesmente confortos induziram desde os primórdios dos tempos a uma mudança tão benéfica como tantas vezes perigosa. Recordemos que a pólvora não foi inventada para fins bélicos, por exemplo.
Muitas coisas mudaram desde a última vez que aqui vim. Ganhos e perdas, foi, é, será sempre assim e cabe a nós saber conviver com o resultado das nossas acções, das nossas escolhas. Acredito que fiz o melhor, o que nem sempre sucede, apesar das intenções serem sempre as melhores. De boas intenções - soi dizer-se - está o inferno cheio. Os dias parecem agora correr de forma mais célere embora mais preenchidos, plenos de vida, duma felicidade até agora desconhecida,  própria das coisas seguras, de certezas e planos que são agora mais que sonhos, realidades.
Ontem, o País - ou uma parte não muito significativa que apesar da descrença nos políticos e na crise insiste em ter fé numa eventual mudança - foi às urnas num dia mais convidativo para um passeio à praia, a fim de escolher um novo Primeiro-Ministro, e, ao contrário dos últimos actos eleitorais, a mudança foi inequivocamente a vontade da maioria. Do acerto da escolha só o futuro o dirá, na certeza absoluta de que tempos difíceis se aproximam, de um esforço que a todos, sem excepções, deveria ser exigido e que sabemos de antemão não ser bem assim. A tradição, em muitos casos, ainda é o que era, e há coisas que não mudam nunca, apesar da vontade e das boas intenções das pessoas.

sexta-feira, abril 01, 2011

FRASE DO DIA

"Só vive quem não foge de morrer"

Irvin Yalom, psicoterapeuta e escritor

sexta-feira, março 25, 2011

SOLIDÃO

A solidão não é mais que um abraço desfeito pela ausência

COMPETIÇÃO

Perdemos o tempo, escravos das horas que correm, entre os verdes e os vermelhos dessa vida que nos diz para onde ir ou não, como um anúncio de tv que nos veste, nos lava e penteia o cabelo e dita os nossos gostos e opiniões. Perdemos o nosso tempo trocando o certo pelo incerto, os pormenores pela pressa e o canto dos pássaros  pelas buzinadelas dum trânsito caótico. Da mesma forma que antes trocávamos cromos trocamos agora afecto... por minutos que nunca chegam a tempo. Não sabemos onde nem quando parar. O que ganhámos? Nada, somamos desaires, família, felicidade, deixados para trás em qualquer berma dessa longa estrada, mas não deixamos de correr, mesmo sem saber para onde vamos, só para não sermos ultrapassados.

domingo, fevereiro 20, 2011

UM DIA...

"...Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer ...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos
todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas
as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."

Mário Quintana

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

MUITO BARULHO POR NADA

Muito Barulho Por Nada é o nome de uma comédia de Shakespeare, mais tarde com uma versão cinematográfica e cujo título em muito se assemelha ao estado das coisas em Portugal e às tendências comportamentais dos portugueses em geral, como de alguns políticos em particular.  Passos Coelho, líder do maior partido político da oposição,  voltou a não surpreender quem esteve atento a outras grandes decisões políticas que dependeram recentemente da sua capacidade de decisão e que poderiam ter afectado - positiva ou negativamente - o País e nas quais, como agora, chamou a si o protagonismo pelo arrastar da dúvida, pela agonia de uma resposta que se pretendia célere até à... abstenção, tão própria daqueles que tanto prometem e geralmente nada fazem, de quem não tem opinião formada, preferindo deixar tudo na mesma. Uma, duas, três vezes, outras tantas abstenções. Os últimos processos eleitorais já tinham passado a imagem de um país marcado não apenas pelo desânimo como também de alguma inércia, de alguma letargia, a facilidade com que nos deixamos cair no fado da inevitabilidade e do comodismo daqueles que acham que pouco ou nada podemos fazer e que é melhor aceitar os factos. Claro que já se sabia do óbvio, que PPC não iria aceitar uma moção que não tivesse sido sugerida por algum partido que não o seu, mas parece-me que lá para os lados do Partido Social Democrático continuam a faltar ideias, alternativas, prevalecendo a crítica fácil que não a construtiva. Feliz do Governo que em cenários de crise tem ainda a haver-se com oposições deste calibre!.... Afinal, para quê tanto barulho, apenas por um pouco de protagonismo mediático à imagem dos Big Brothers e das Casas dos Segredos? Parece-me triste, vulgar, mas é esse o estado da política, de Portugal e dos portugueses.

domingo, fevereiro 06, 2011

PORQUE HOJE É DOMINGO!...

EFEITO BOOMERANG

A SIC deu a notícia: Havia romenos em Almada vivendo em condições sub-humanas. Tinham vindo à procura de trabalho, eram pessoas honestas e tinham um sonho que queriam realizar: voltar para a sua terra natal. Ficam bem os sonhos em qualquer conto de fadas que se preze. A "4Ever Kids", associação humanitária, sabia da dimensão da história, desde que bem contada, não importando que se distorcesse aqui e além a verdade sobre a realidade dos factos. E se assim pensaram melhor fizeram. Quem não lidava diariamente com este grupo de pessoas - a que tento evitar chamar de romenos para não generalizar toda uma nação - acreditou na reportagem e chegou até a emocionar-se. Conseguidos os financiamentos necessários de quem se enterneceu ou simplesmente procurou algum tipo de impacto mediático, cerca de 40 pessoas tiveram direito a banho, comida e bilhetes só de ida para a terra dos sonhos, o que parecia ser o final perfeito para uma verdadeira história de grande valor humanitário. Os portugueses sempre tiveram o condão de, mesmo em tempos de crise como os agora vividos, conseguirem dar uma parte do pouco que ainda lhes resta para ajudarem quem mais necessita, seja no Continente, Madeira, Açores ou por esse mundo fora onde haja gente a passar fome e necessidade. Só que estes romenos fazem lembrar aqueles boomerangues a que achávamos tanta graça na nossa infância, que por mais longe que os arremessássemos voltavam sempre ao ponto de partida, uma e outra vez, tantas quantas fossem as nossas tentativas. Ah, pois é! Cerca de um mês volvido desde a sua partida, após terem passado junto das suas famílias o Natal e Ano Novo - a expensas do Zé Povinho -, estes "simpáticos" "trabalhadores" que por alguma razão foram expulsos de França, Espanha, etc,  estão de regresso - algumas caras novas entre uma maioria já conhecida -, tão civilizados, honestos e higiénicos como sempre, cada vez mais refinados na arte do engano, de uma descarada falta de respeito pelas regras e instituições, por um povo maioritariamente bom, mas por vezes tão ingénuo.

sábado, novembro 06, 2010

O PRIMEIRO BEIJO

Beijos. De entre todas as coisas que podemos fazer com a boca, de entre tudo o que podemos e desejamos fazer na vida, poucas coisas se comparam a um bom beijo, de preferência muitos e variados, do leve roçar de lábios ao tão popular beijo francês, curto ou mais prolongado, daqueles de tirar a respiração, quem não sonha com o seu primeiro beijo? Existem outras formas de demonstrar afecto, o toque das mãos, aquele olhar de quem não vê mais nada além da pessoa amada, mas é a expectativa do primeiro beijo - a par da famosa primeira vez - o motivo dos nossos primeiros suores frios, de todas aquelas ideias e das imagens que construímos na cabeça e que não raramente caem por terra na hora H. Não importam os planos, mas a experiência, a continuação. Por muito que nos recordemos do primeiro beijo, dificilmente ele será melhor do que o segundo e o terceiro, tese esta que serve também como boa desculpa, se depois deste desajeitado choque de lábios o seu parceiro ou parceira não se mostrarem muito entusiasmados. Convençam-no (a) que a próxima vez será bem melhor.  Não obstante, é a memória do primeiro e não do último que me acode ao pensamento - mais pela ternura do que pela perfomance. Ah, esse eterno e curioso sabor tantas vezes agrídoce das primeiras vezes!..., tão contrário à pressa, inimiga da perfeição, daqueles que querem engolir o mundo numa só golfada e que por isso - embora adquirindo rápida e vasta experiência - raramente lhe tomam o sabor que só o conhecedor e o paciente adquirem. Poucos ousam por estes dias em que nos achamos cada vez mais conhecedores da vida e das pessoas, psicanalistas de bolso, datar essas estreias - beijo ou sexo - para depois dos 18/20 anos, havendo mesmo uma espécie de orgulho masculino, uma competição para ver quem perdeu a virgindade mais cedo, da forma e nos locais mais inconcebíveis. Beijar, amar, não têm de ser uma corrida contra o tempo, um prazer tão somente intenso e instantâneo, mas uma partilha de emoções, sentidos e descobertas que vão prolongar e tornar cada momento memorável para além do momento do próprio beijo.

sexta-feira, outubro 29, 2010

PARA FINALIZAR... SOBRE COMEÇOS E TUDO O QUE HÁ PELO MEIO

 (uma adenda ao post anterior)

O que cada começo tem de pior/melhor não é o estar-lhe quase sempre inerente a obrigatoriedade de um fim, mas que, até o aingir existe um percurso  mais ou menos longo de descobertas e marcos/datas, experiências, aromas cujo sabor agridoce fazem reabrir profundas e inevitáveis feridas. Quisesse esquecê-las e tudo seria mais fácil, bastaria tão simplesmente trocar os nomes às coisas, amor por paixão, emoção por razão. Mas assim não teria memórias e um homem sem memórias ou sonhos é um homem nu, despido de fé, um saco vazio ao sabor do vento, sem vontade própria nem vida a que possa chamar sua. Assim, por opção ou casmurrice, contra a lógica do bom senso e os conselhos de quem sempre se preocupa, segue desafiando a estatística das probabilidades, dando ouvidos a quem não vê e raramente pensa: o coração.