terça-feira, maio 11, 2010

ESPERANÇA

Quem me conhece minimamente, pessoalmente ou através do convívio aqui da blogosfera, sabe das minhas posições - quase sempre negativas - quando o assunto são os temas religiosos, qualquer que seja a religião. Ora são os passados escritos com o sangue de muitos que não professavam a mesma ou qualquer religião, ou que simplesmente contestavam o que a igreja sempre deu por verdades insofismáveis, ou algumas opiniões extremas sobre celibato, homossexualismo, preservativo, pecado, etc etc etc, tanto que havia por onde escolher. Podem vir dizer-me que as mais de 100 mil pessoas que hoje se juntaram para assistir à missa do Papa Bento XVI, no Terreiro do Paço, na sua primeira visita a Portugal, desmentem categóricamente aquilo que tenho vindo a defender, que é o de um notório afastamento das pessoas em relação à Igreja. Para os mais desatentos lembro que também eu saí à rua para ver a imagem da Nossa Senhora de Fátima na sua passagem por Almada.
Choca-me o luxo e a ostentação das proeminentes figuras do Clero, o esbanjamento de dinheiro que esta visita acarretou, o caos no trânsito, as pontes... de um país com a economia em colapso. Choca-me o cinismo dos nossos governantes, que entre a festa benfiquista de seis milhões de portugueses e a excitação da visita do Papa atiraram para o ar o mais que iminente aumento dos impostos e umas veladas ameaças sobre cortes no 13º e no subsídio de Natal, como se nem dessemos a esses temas a devida importância. E a verdade é que a maioria nem notou, ou preferiu dar relevo a outros cenários mais festivos. Há alturas em que invejo os gregos!
Mas dizia eu que muitos dos que foram ver o Papa - bem mais simpático ao vivo do que a ideia que tinha do homem - não o fizeram por especial devoção, mas essencialmente pelo "circo" e, não dêem a este termo qualquer conotação perjurativa. Ver o Papa ao vivo é a possibilidade de aparecer na televisão, de assistir a algo que provavelmente não veremos nunca mais, "estar" incluído num grupo - ou seguir os carneiros, como tanto temos o costume de fazer em Portugal. Eu vi o Papa pela televisão, como gostaria de ter lá estado apesar das nossas diferenças, intrigado mas ao mesmo tempo fascinado com o potencial que um homem - e é d'Ele que falo, daquele em que insisto eu: não acredito - tem para mobilizar tanta gente. Tanto potencial desaproveitado ao longo de décadas, séculos, por equívocos e jogos absurdos de poder e ostentação. Hoje, como defronte da estátua mais emblemática de Fátima, penso no papel desempenhado pela Igreja, não apenas na conturbada sociedade actual, mas ao longo dos tempos, que deveria de ter sido de compreensão e de esperança para os desfavorecidos, para todos aqueles que sofrem, para os incompreendidos, vítimas das suas diferenças e tomadas de posição. A esses a Igreja nunca deu conforto, antes perseguiu. Preferiu impor em vez de aconselhar, criticar em vez de perdoar, castigar quem precisava de apoio. Conforto, conselhos, perdão, apoio, esperança, fé, união, solidariedade. É esse o papel da Igreja, de toda e qualquer religião, mesmo baseada em mitos com histórias inverosímeis e falsos deuses de pés de barro. As pessoas, cristãs ou não que seguiram o Papa, mesmo que pela televisão, não querem saber do passado, mas precisam de acreditar no futuro, mesmo que agarradas a essas imagens, ao Papa, aos santos, a um simples crucifixo, a qualquer coisa que lhes permita acreditar num amanhã melhor.

13 comentários:

Isa GT disse...

Mas procurar fora delas próprias esse futuro, não será a solução, terão de acreditar na sua própria força para mudar alguma coisa.
Quanto a religião vou mais por aqui
link

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu amigo
Concordo com tudo que escreveste.
Não consigo esquecer os 75 milhões de euros, que se gastou, que dava de comer a tanta gente que tem fome.
Se Jesus Cristo voltasse...corria tudo a pontapé.
Acho uma ostentação desmedida quando
há crianças a morrer de fome.

beijinhos
Sonhadora

FlorAlpina disse...

Concordo plenamente!
Não por querer poupar as palavras, e resumir assim o comentário,mas porque concordo mesmo!
Acho um exagero, na situação em que está o país ainda concedem mais uma ponte...
Aqui onde estou, num país onde tudo funciona a tempo e a horas, temos este ano ao todo 6 dias feriados, e só duas pontes! Muito haveria a dizer...

Bjs dos Alpes

Fê blue bird disse...

Miguel:
Não podia estar mais de acordo com o que escreveste.
Ontem interroguei-me quando vi tanta gente e muitos emocionados.
Será que é por estarmos carentes de valores morais e de fé?
Será que precisamos da fé para suportar as vicissitudes actuais?
Respeito sempre as diferenças, acho que a fé não se compra, nem se vende sente-se! Ou se tem ou não se tem!
Mas custa-me saber que depois de saírem dali as pessoas fiquem na mesma, indiferentes ao seu semelhante, indiferentes às injustiças.

Um beijinho

Vitor disse...

Nem mais...totalmente de acordo!

B! disse...

É isso mesmo, enquanto o Papa está cá e os benfiquista fazem a festa outras coisas acontecem sem que as pessoas tomem a devida atenção... Para quê tanto mediatismo à volta desta visita papal?!

Rosa Carioca disse...

Posso assinar em baixo?

Guma disse...

Olá estimado amigo Miguel:
Como tudo o que era importante aqui foi relatado, desde o desperdício de dinheiros públicos como se fossemos todos católicos Romanos, pese embora sendo ele um chefe de estado, tenha de ser recebido como outro qualquer que nos visite. A única coisa favorável, deve-se a menos transito e poluição do que o habitual em Lisboa.
Eu no meu caso pessoal, estive a trabalhar para aqueles que nada fizeram.

Forte e amigo kandando para ti

Mariana marciana disse...

Ohh Miguel, ainda hoje tive uma discussão sobre isso, não lhe chamei circo, antes, disse que era como ir a Las Vegas ver o Elvis (não querendo ser depreciativa, como tão bem frisaste)
não acredito mesmo que tudo isto seja a mais pura fé e uma questão de proximidade com deus...
Quanto ao aproveitamento politico desta situação... lamentável.. mas "o pior cego é o que não quer ver"...
Beijoca

Unknown disse...

Caro Amigo Miguel

Conheci-te através do Kimbanda da Leba. Vim ao teu blogue e gostei. Convido-te, por isso, a visitar a Minha Travessa e seres seguidora seguidor dela, o que desde já te agradeço.

Quanto a papas, já deixei o que tinha a dizer lá no meu tugúrio. Resumindo: não gosto de papas, de maizena, de linhaça ou de... Roma. Mas abro uma excepção quanto às de sarrabulho, de comer e chorar por mais...

Desculpa a chatice que te possa causar este ‘tuga desavergonhado e escrevinhador. Também ando pelo Facebook, o que quer dizer que estou aposentado, mas vivo. E tão bem disposto quanto seja possível…


Abs

J disse...

Subscrevo Miguel.

E tu sabes que creio nesse ser superior, nessa força, nessa energia que move o mundo e que se chama Amor.
Ou Amor ao próximo...

Beijos grandes

J disse...

Adorei que a tua reacção não tivesse qualquer desrespeito ou violência verbal como há muita gente, ok! "justificadamente" REVOLTADA, que utiliza. Parabéns amigo!
Sempre adorei a tua escrita.

J disse...

Voltei para ler mais uma vez... Tu escreves com Elegância Miguel e isso é que é difícil... Por isso adoro como escreves por isso adoro o ser humano que és e por isso venho aprendendo (espero) contigo. Obrigada por seres meu amigo!

Beijo.