quinta-feira, abril 01, 2010

1º DE ABRIL

"A mentira faz parte da natureza humana, sem ela seria impossível viver em sociedade (...)
Até há uma estatística que diz que em dois minutos de conversação, há três mentiras (...) É tão importante mentir que até inventámos um dia das mentiras."

Estas afirmações pertencem ao psiquiatra Américo Baptista, publicadas hoje no jornal Global. Gostava de pensar que existe um certo exagero no que diz, que mentir não é tão importante para vivermos em sociedade, mas seria estar a enganar-me a mim mesmo, e essa é uma mentira que não quero proferir. Desde já aviso que nunca roubei, nunca menti, nunca vi filmes pornográficos ou cobicei a mulher do próximo. Nunca cometi um erro no meu trabalho, nem inventei desculpas para justificar-me perante ninguém, pais, amigos, namorada ou chefe. Mentimos. Mentimos muito, tanto, quando pequenos para escapar do raspanete do pai, nas doenças que inventamos para faltar às aulas, nas histórias contadas aos colegas sobre façanhas que nunca cometemos, sobre mulheres, sobre jogos que nunca jogámos porque nunca os pudemos sequer comprar. Mentimos quando somos cínicos para com as pessoas que não suportamos, nos desejos forçados de um bom dia, quando interrompemos o discurso ensaiado do telefonema sobre as promoções da MEO ou da ZON com um educado "não tenho tempo", mentimos já sem dar por isso e, pior, mesmo que daí não advenha qualquer vantagem. Mentimos quando nos perguntam se estamos bem e respondemos que sim, porque é a saída mais fácil ou que não, começando a contar um número exagerado de doenças e problemas apenas para que se compadeçam de nós. Mentimos para justificar o atraso no emprego, o erro cometido ou mesmo quando a mulher nos pergunta se estávamos a olhar para outra. Nunca! "Tu és a única mulher na minha vida! Morreria - outra das mentiras mais frequentes - por ti." Mente ainda o pescador e o caçador, o político e o apaixonado, o poeta e o ladrão. Somos mentirosos compulsivos, Pinóquios de carne e osso, espantados e irritados com as mentiras dos nossos governantes como se fossemos exemplares perfeitos, almas puras, imaculadas de qualquer pecado, dignos de um qualquer Fernão Mendes... Minto.

5 comentários:

Isa GT disse...

Quem for "fanático" da verdade, prepare-se para sofrer e perder, mas mesmo assim, há quem não desista ;)

maria moura disse...

Sou obrigada a admitir que é assim na generalidade, mas fiquei um pouco frustrada por me aperceber que mentimos em demasia... só faltou dizer que esta "existência" tb é uma mentira...

Fátima Santos disse...

Pois é, acho q disses-te tudo sobre este tema!

Miguel disse...

Existem mentiras e mentiras, inocentes, de ocasião, algumas que servem para evitar conflitos. Não havendo quem possa atirar a primeira pedra na luta pela verdade, não chegarei ao ponto de qualificar a nossa existência como uma mentira - embora haja muita gente que vive vidas de mentira ou de ilusões - e muito menos de abdicar de ser o mais verdadeiro possível, especialmente com aqueles que amamos.

maria moura disse...

Inteiramente de acordo Miguel. Só assim a vida faz e tem sentido.